terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Pra dizer que não fiquei fora tanto tempo...

...o post que vai ser provavelmente o último de 2009. Não que valha isso. Não que o blog em si valha qualquer coisa.



Chefe: - Bom dia, pessoal. Gostaria que todos os presentes falassem um pouco para relatar a evolução das atividades durante o ano, de forma que...

Z: - Evolução é uma ilusão. Para evoluir para o ponto P1, antes precisamos evoluir para o ponto P1/2, e antes do ponto P1/4, e antes para o ponto P1/16, e assim por diante. Claramente nunca vamos sair do lugar. 'Evoluir' é uma ilusão.

Chefe: - ...er... ok, Z, já falamos disso antes. Bom, vamos então falar de coisas mais práticas. N, você conseguiu terminar o relatório solicitado pelo nosso principal cliente?

N: - O desejo de ter o relatório é só uma manifestação da vontade de poder do cliente. Não podemos nos curvar, não podemos aceitar a moralidade de rebanho que nos é imposta pela mentalidade judaico-cristã do nosso cliente. Precisamos tornar nossa empresa uma super-empresa que, aí sim, impõe seus desejos aos clientes.

Chefe: - N, você tinha prometido o relatório para o início do ano. Assim fica difícil. Não dá pra responder assim a tudo o que te pedem. Sh, você conseguiu elaborar a planilha?

Sh: - A planilha é só uma manifestação da Vontade escravista do cliente. Não podemos ser escravos das vontades. Temos que negar nossos desejos. O simples fato de termos nascido é uma maldição. A nossa única fuga da escravidão são as Artes, a Pintura, a Escultura, o Teatro, a Música. E você quer que eu perca meu tempo com uma planilha?

Chefe: - Sh, você já não foi muito bem na avaliação anual. Complicado. K, como ficou a situação dos papéis da sua contratação?

K: - É difícil dizer. Saí; encontrei no departamento de RH dois burocratas que precisavam de papéis. Que papéis?, eu perguntei. Eles disseram 'os papéis, os papéis'. E então eu procurei, perguntei o mundo todo sobre os papéis, e as pessoas diziam 'que papéis?' e diziam que eu não era digno de nem saber de que papéis eles estavam falando, muito menos ver os papéis, muito menos poder tocar neles. Todos me julgam indigno dos papéis.

Chefe: - Ok, mas você ainda está trabalhando nisso?

K: - Sim. Estou identificando o lugar onde devem estar os papéis, mas toda vez que tento me aproximar, algo me afasta. Mas tentarei de novo e de novo, para sempre se for necessário.

Chefe: Ok, gosto do seu empenho, mas precisamos de resultados. H, e aquele bug no formulário, resolveu?

H: - Não. Não vou conseguir resolvê-lo enquanto não encontrar uma metodologia coerente para buscar a solução.

Chefe: - O que quer dizer? O W enfrentou o mesmo problema e passou por isso rapidamente.

H: - O que ele fez não é totalmente válido. E não é porque ele resolveu um problema que todos os problemas estão resolvidos. Além disso, mesmo que o problema pareça resolvido com os casos de teste que elaborarmos, nada impede que apareça uma nova situação imprevista que fará o problema reaparecer. Por essa perspectiva, o problema é insolúvel, na verdade.

N (não se contendo): - O que você chama de verdade é só um ponto de vista.

H (rindo): - E a sua frase sobre a verdade, então, também é só um ponto de vista.

W: - Acalmem-se, cavalheiros. Isso é uma discussão absolutamente infrutífera. Sobre o que não podemos falar claramente, é melhor permanecer em silêncio. Eu proponho que caminhemos ao bar para tomar umas cervejas.

S: - W, você que é um homem de estudos, pode me informar qual é a vantagem prática de ir a um estabelecimento comercial ingerir bebidas alcoólicas que...

Chefe: - Não, ele não pode. Mas eu concordo, vamos logo. E P, por favor, não nos fale daquela cerveja maravilhosa que só existe na sua imaginação. Hoje vamos tomar cerveja de verdade, e é na minha conta.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Uma pausa

Não posso mais postar do trabalho e a internet em casa está limitada e ruim. Devo ficar sem postar até o início da semana que vem.

Resolvi deixar dois pequenos textos em que andei pensando esses dias:

Um mestre japonês, chamado Baso, perguntou a outro mestre, chamado Hiakujo:
- Qual a verdade que você ensina?
A título de resposta, mestre Hiakujo limitou-se a erguer seu leque mata-moscas.
- Isso é tudo? - Perguntou Baso. - Não há mais nada?
Mestre Hiakujo abaixou seu mata-moscas.

E outro, que publiquei no meu antiquíssimo blog, em 2002:

Ordenei que tirassem meu cavalo da estrebaria. O criado não me entendeu. Fui pessoalmente à estrebaria, selei o cavalo e montei-o. Ouvi soar à distância uma trompa, perguntei-lhe o que aquilo significava. Ele não sabia de nada e não havia escutado nada. Perto do portão ele me deteve e perguntou:
- Para onde cavalga senhor?
- Não sei direito - eu disse -, só sei que é para fora daqui, fora daqui. Fora daqui sem parar; só assim posso alcançar meu objetivo.
- Conhece então o seu objetivo? - perguntou ele.
- Sim - respondi - Eu já disse: fora-daqui, é esse o meu objetivo.
- O senhor não leva provisões - disse ele.
- Não preciso de nenhuma - disse eu. - A viagem é tão longa que tenho de morrer de fome se não receber nada no caminho. Nenhuma provisão pode me salvar. Por sorte esta viagem é realmente imensa.