Primeiro, pegue uma questão cabeludíssima sobre aborto de fetos com síndrome de Down (sendo o aborto legalizado, é ético abortar um feto que irá nascer com sérios problemas cognitivos? Que não seria abortado caso não tivesse esses problemas?).
Adicione uma notícia sobre fabricação de espermatozóides e óvulos em laboratório - dizem que em cinco anos vai ser possível um processo totalmente artificial. Considere a possibilidade de escolher as características da criança que vai nascer, como quando você vai jogar algum RPG no computador e tem oportunidade de desenhar o rosto, o corpo e traços de personalidade do protagonista.
Misture bem e leve ao fogo. Devagar, vá adicionando paulatinamente informações diversas sobre órgãos artificiais - mãos, braços, pernas, corações, pulmões, pâncreas, you name it. Polvilhe com fragmentos de câmeras conectadas ao cérebro que funcionam como substitutas para olhos.
Depois de solidificar, coloque a massa na forma de conceitos transumanistas (abraçar a tecnologia genética, pular fundo dentro da piscina dos genes). Cubra com singularidade tecnológica (o ponto em que o avanço tecnológico tende a um valor infinito). Deixe assando por alguns séculos, ou décadas, ou anos, ou nunca. Isso não sabemos.
O bolo que sai do forno de muito difícil digestão, concordo. E é real; dentro de um futuro próximo, poderemos, se quisermos, ser mais do que humanos. Mais fortes, mais inteligentes, mais rápidos. É um assunto pra lá de polêmico, e ninguém quer uma multidão de loiros de olhos azuis. Mas não tem que ser necessariamente assim; temos que aprender a ser melhores humanos para só então sermos mais do que humanos. Afinal, se a evolução espiritual é tão prezada, porque não pensar também na evolução da espécie?
Pensei nisso ontem e hoje e tendo a acreditar que (mesmo tendo lido 1984 e tendo assistido Gattaca) os potenciais benefícios seriam muitos para descartá-los sem julgamento. Mas também tenho meus medos, e ainda não tenho opinião formada sobre a situação como um todo.
É realmente um caso a ser pensado. Para quem se interessar, vale a pena ler sobre transumanismo e pós-humanismo, links ali em cima.