domingo, 5 de maio de 2013

Jogos de frustrações

Terminei no final de semana o último volume publicado de "Guerras dos Tronos". Gostei, apesar de em vários momentos me sentir descontente com os rumos que tomam a história. Atenção: os trechos com spoilers sérios, com exemplos do que estou dizendo, estão escritos em branco com fundo branco. Para ler, é só selecionar o texto.

RR Martin quebra algumas regras dos épicos de fantasia ao compor sua história. Por um lado, isso dá uma imprevisibilidade ímpar, uma vontade tremenda de saber como as coisas vão acontecer. Por outro lado, algumas circunstâncias me deixaram profundamente frustrado com a  história.

Em qualquer história, principalmente em épicos de fantasia, quando uma personagem se destaca, quando há várias e várias páginas sobre suas vitórias e suas batalhas, ele se transforma em um herói para o leitor. O público nutre expectativas sobre como ele irá superar seus problemas e alcançar redenção. É permitido que o herói morra, é permitido que ele falhe enquanto busca seu objetivo. Mas não é permitido que ele se acovarde em um momento decisivo, que hesite, que morra com um tiro nas costas em uma situação banal. Martin mata heróis nas entrelinhas, com flechas vindas de direções aleatórias, ajoelhados, hesitantes, sem reação, sem vingança, sem saber bem por que estão morrendo.

Quando Frodo sai de Valfenda, ele tem um objetivo: destruir o Anel. Sua missão tem basicamente dois resultados possíveis: ou ele atinge seu objetivo (e sobrevive, ou morre), ou algum vilão consegue impedí-lo, e o problema teria que ser solucionado de alguma outra forma.

Trecho em branco: Jaime sai de Winterfell com Briene para negociar com Tyrion por Sansa. Quando chegam, Tyrion não está disponível, Sansa não mora mais lá, e a missão não faz mais sentido. Na história de RR Martin, Frodo chegaria até o lugar indicado e a montanha não existiria mais, o Anel seria de plástico, e Sauron teria sido substituído por um novo governante nem-bom-nem-mau.

A morte de Rob, pra mim, foi a parte mais frustrante de todo o livro. Ele morre acreditando que seus irmãos foram mortos por Théon, sem oportunidade de vingança, nem contra ele, nem contra os Lannister. Morre acuado, sem reação, sem puxar a espada, como um ratinho em uma ratoeira. Sem saber por quê, sem saber como, sem elucidação, sem redenção.Não há como isso se resolver por futuros livros - ele simplesmente morreu feito uma mosca. Fim do trecho em branco.

É claro que a história de Martin se aproxima mais da realidade - afinal, o universo não tem nenhum compromisso de elucidar as situações antes de matar os mocinhos. Na realidade, o Dr. No mataria o James Bond antes de contar detalhadamente sobre seus planos. Mas de realidade já estou cheio, e de fantasia, eu espero um pouco mais.