segunda-feira, 4 de março de 2013

Caretice educacional



Hoje a professora do meu filho de cinco anos me chamou pra conversar porque ele aprontou na escola. Fiquei consternado ao saber o que havia acontecido: a pedido de um colega, ele tinha tirado a roupa e então desfilado e dançado pelado na frente dos amigos e amigas.

Passei "aquela" reprimenda, disse que ele tinha me envergonhado, que tinha se comportado como um bebê e etc. Mas depois de notar a chateação que causei nele, me toquei de que o que havia acontecido era muito menos grave do que parecia. Na verdade, de acordo com meu próprio código de ética, nada impede que as pessoas andem peladas por aí sem que sejam reprimidas por isso. Me senti hipócrita. Difícil reconhecer, chega a ser doloroso, mas é real: em várias oportunidades brinco com ele em situações assim, antes do banho, ou na hora de trocar de roupa.

Claro, ele fez com o objetivo de fazer graça. Não foi pra chocar, não foi pra irritar. Ele faz porque em casa é aceito. É óbvio que nem todos os comportamentos aceitos dentro de casa são aceitos em público, e é claro que mesmo as brincadeiras mais inocentes tem hora certa pra serem aceitas (até a piada do tomate atropelado pelo caminhão causaria caretas em um velório). Mas qualquer outra brincadeira fora de hora receberia uma bronca muito menor do que andar pelado pela escola, tanto por parte da professora quanto de mim.

Eu poderia simplesmente dizer que os pais dos amigos não achariam legal, pra não fazer mais e pronto, ele iria entender. Mas minha bronca foi muito mais vigorosa. Excessivamente vigorosa.

Me toquei de que, nós, pais, acabamos  reprimindo esse comportamento porque ele nos envergonha, por que não é aceito pela comunidade em que estamos inseridos. Porque fomos treinados para repelir esse tipo de comportamento em público desde a mais tenra infância, como foram também nossos pais e os pais de nossos pais ( é muito mais comum e aceitável socar o amiguinho do que ficar pelado na frente dele, tanto que isso nem geraria comentário da professora). Me toquei que, devagar, sem pensar, colocamos nos filhos a culpa e a vergonha que participam tão fortemente de nossos julgamentos.  Me toquei de que assim, um passo de cada vez, os filhos ficam mais aceitáveis, mais quadrados, e o mundo fica mais careta e sem graça - como nós também somos.