terça-feira, 29 de março de 2011

A infame Hora do Planeta

Eu, bobo, achava que meu esforço em 'guardar' a Hora do Planeta ia ser algo bem recebido mas, em diversos círculos intelectuais - ou pretensamente intelectuais - percebi que o evento é muito mal avaliado, taxado de 'hipócrita', e coberto de argumentos como 'que diferença faz uma hora no ano? Você fica uma hora de luzes apagadas e depois liga seu ar condicionado.', etc.

Qualquer um que tenha lido pelo menos um pouco sobre a tal Hora do Planeta vai notar que o objetivo dela não é 'economizar' os sessenta minutos e torrar energia em todos os outros. É um gesto simbólico, algo pra fazer pensar no assunto, lembrar a todos de que o problema existe e de que é grave. Vi também pessoas no twitter comparando a Hora com as (inúteis) passeatas de branco pela paz, mas vejo como coisas diferentes porque os agentes estão, na Hora do Planeta, participando do evento. Passeatas de branco pela paz não seriam tão inúteis se os bandidos participassem delas, certo?

Aqui em casa, ficamos eu e o Alexandre (que agora está com três anos, quase quatro) por um bom tempo sozinhos à luz de velas. A hora marcada era 20:30, mas começamos mais cedo porque ele estava realmente ansioso. Aproveitei o tempo pra contar histórias pra ele de como era o mundo quando não havia energia elétrica disponível, de como as pessoas viviam sem ela, e de como toda forma de energia tem que ser usada com critério. Quando a Deborah chegou, contamos pra ela o que tinha sido falado e trocamos mais histórias sobre homens em cavernas, pinturas rupestres e velas.

Com certeza a Hora do Planeta não resolve o problema que tenta atingir, e atitudes conscientes no dia-a-dia são absolutamente indispensáveis (inclusive exigir das empresas atitudes ambientais coerentes). Mas ter uma hora pra pensar o assunto não é necessariamente hipócrita e pode, quem sabe, até ajudar.

terça-feira, 22 de março de 2011

Conservar é humano


Há alguns dias um amigo me fez pensar em como é ridícula a mania de dar nome em ruas - na verdade, também em viadutos, pontes, obras públicas em geral. O mais simples seria numerar as ruas de acordo com um sistema que mapeasse de forma razoável os inícios em coordenadas x;y... facilitaria muito encontrar qualquer endereço. Ao contrário, preferimos usar nomes de defuntos, largamente desconhecidos da população (e talvez sabiamente ignorados), prestando homenagem a pessoas que já foram comidas por vermes há muitos e muitos anos e cujos feitos normalmente são mais de dar vergonha do que orgulho. Imagino o Duque de Caxias e o Dom Pedro I, em um limbo de existência qualquer, brigando pra ver quem tem mais obras públicas em honra a seus nomes.

Não entendo essa cultura da morte. O mundo é dos vivos; no entanto, em casa pequeno detalhe da vida, estamos sempre prestando contas aos mortos. Nos sobrenomes, nas famílias. Na 'tradição'. No patriotismo, nos bairrismos em geral. Na 'herança cultural'. Nas religiões.

É óbvio que nem tudo o que é velho é ruim, e nem tudo o que é novo é bom. É óbvio também que é impossível reinventar tudo do zero o tempo todo. O que discuto é valorizar algo só por ser velho, por ser ancestral, por ter sido sempre assim. Por alguém dizer que é bom, sem mais argumentos, sem mais discussão.

Vivemos tanto tempo 'honrando' o que já passou que esquecemos de olhar pra frente e planejar o que está por vir. Estamos todos mortos, vivendo uma vida que não é nossa. Só a ignorância nos salva da loucura.

Alguns se orgulham do rótulo de 'conservador'. Um conservador de verdade tem que morar em cavernas e ser nômade. Ou viver como um primata, pegando frutos do alto das árvores.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Bule Voador

Hoje um texto meu foi publicado no Bule Voador, o blog da Liga Humanista Secular do Brasil. Leiam :)