quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Mensagem subliminar

rumores afirmam que se você rodar os cds da microsoft ao contrário, irá ouvir mensagens satânicas.

pior ainda é que se você rodá-los normalmente, eles irão instalar o windows.

Direto de "O nome da rosa"

Um diálogo muito bem construído sobre a discussão entre religião e ciência:

"Mas então", ousei comentar, "estais ainda longe da solução..."
"Estou pertíssimo", disse Guilherme, "mas não sei de qual."
"Então não tendes uma única resposta para vossas perguntas?"
"Adso, se a tivesse ensinaria teologia em Paris."
"Em Paris eles têm sempre a resposta verdadeira?"
"Nunca", disse Guilherme, "mas são muito seguros de seus erros."
"E vós", disse eu com impertinência infantil, "nunca cometeis erros?"
"Frequentemente", respondeu. "Mas ao invés de conceber um único erro imagino muitos, assim não me torno escravo de nenhum."


E estou eu divagando em meus diálogos metafísicos quando a infeliz realidade me traz de volta e me obriga a trocar um pneu. Imagino se Aristóteles tinha dores de dente enquanto escrevia; se Sócrates teve alguma de suas togas preferidas rasgada durante uma sessão de perguntas e respostas. A idéia é concebível, mas pouco palpável: alguns personagens só são facilmente imagináveis no mundo mental. Mas Newton (segundo a lenda) imaginou a lei da gravidade ao ser atingido por uma maçã, Arquimedes estava na banheira quando descobriu o princípio que leva seu nome. Eu... eu só troquei um pneu mesmo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Partido da palhaçada


A idéia, como tantas outras, surgiu em uma conversa regada a cerveja barata e incentivada por amendoim salgado. Imaginaram que tudo provavelmente não passaria de um papo de bar, em que muito é falado e nada é feito... mas, dessa vez, não foi bem assim.

O partido foi fundado dois meses depois. O advogado do grupo se encarregou da burocracia, agindo como se tudo fosse uma grande brincadeira mas realizando os procedimentos de forma precisa, impecável. Em pouco tempo, contavam com cerca de 20 partidários devidamente filiados.

O princípio era simples: avacalhar as estruturas, normas e o status quo. As propostas do partido eram baseadas na total falta de seriedade: servir batata-frita e cachorro quente para as crianças como merenda nas escolas; usar o dinheiro da previdência para fazer uma rave especialmente voltada à terceira idade, com artistas da velha guarda (inclusive com previsão de verbas para a distribuição ilícita de anfetaminas); promover congressos, encontros e workshops diversos sobre a utilização da coca-cola como desentupidor de pia, sua viabilidade e meios de operação; obrigar o ensino do gênese segundo a Igreja do Espaguete Voador para todos os alunos do ensino médio.

As coisas começaram devagar. Devido à sua influência, os fundadores do partido conseguiram eleger um vereador em sua cidade de origem. Seu nome de batismo era João Pontes, mas depois da eleição a alcunha de "Zé Cachaça" passou a ser utilizada pela maioria da população. João não era alcoólatra: ganhou o apelido devido a uma de suas propostas, em que sugeria substituir a água comum utilizada nas fontes da cidade por aguardente.

Os demais vereadores não permitiram que o mandato de Cachaça durasse muito tempo. Através de uma artimanha jurídica, conseguiram uma cassação a despeito da vontade da população, que tirava das atividades do tresloucado vereador risadas melhores do que as provocadas por qualquer humorístico global. João fez dezenas de propostas absurdas, agitou a câmara com vestimentas inapropriadas, agendou uma reunião de hippies ambientalistas com o fabricante de isopor da cidade... mas a única medida que conseguiu realmente aprovar foi dar o nome de Suellen Pâmela (praticante notória da profissão mais antiga da história) a uma avenida da cidade (os outros vereadores não perceberam a gafe até ser tarde demais).

Mas, apesar do pequeno sucesso logrado por Cachaça, as notícias se espalharam rapidamente. Em pouco tempo, o PaPa, Partido da Palhaçada, ou Partido da Pataquada, ou ainda Pata (que) Pariu monopolizava os temas de sites de relacionamento on-line, conversas de barbeiros e reuniões das Senhoras de Santana. A opinião era, com raríssimas exceções, unânime: todos achavam o PaPa o máximo. "Já que os políticos acham que somos todos palhaços, vamos colocar uns palhaços para fazer política", diziam.

O fenômeno cresceu. Os políticos tradicionais acreditavam que seria apenas uma moda passageira e, quando tentaram reagir, já era tarde demais. "Isso é um absurdo", diziam. "Eu passei a minha vida inteira aprendendo política e agora o povo vota em um bando de idiotas." O PaPa conseguiu eleger três governadores estaduais nos três estados em que lançou candidatos: Reinaldo Leleca em Pernambuco, Ricardo Batuta no Acre e Antônio Maluco em São Paulo.

A administração em São Paulo e no Acre não produziu quase nenhum resultado. Como não conseguiu maioria nas assembléias estaduais, o PaPa desses estados se esforçava para tumultuar as votações provocando sucessivas prorrogações: nada era decidido, nunca. O povo desses estados, estranhamente, não percebeu muita diferença com relação às administrações anteriores.

Em Pernambuco começou o movimento que, tempos depois, foi chamado de Revolução Insana. Além do Executivo e do Legislativo, também o Judiciário foi tomado por ferrenhos papastas. Apesar da aparente falta de critério nas ações do partido, havia uma estrutura muito bem organizada que permitia atividades de larga escala: era uma loucura institucionalizada e, apesar de amplamente aberta a novas idéias, mantinha uma linha de raciocínio absurda que permitia a orquestração de atividades de grandes proporções.

Mas ninguém estava preparado para o que estava por vir. Através de obscuros regulamentos jurídicos esquecidos nas entrelinhas da Constituição, o PaPa conseguiu vender todo o patrimônio do Estado de Pernambuco (inclusive o Estado em si) e, com o dinheiro, organizou uma grande queima de fogos que durou três dias e pôde ser observada até do Japão. Cientistas até hoje tentam explicar o fenômeno, mas partidários do movimento Terra Plana afirmam que é mais uma evidência para suas teorias. O PaPa concorda.

Todas as instituições estaduais em Pernambuco entraram em colapso. Os políticos tradicionais eram amarrados a postes de iluminação e sofriam com tortas no rosto por dias e dias. As portas dos hospícios foram abertas; as das delegacias, trancadas.

O governo federal sofreu com desinformação e boatos espalhados pelos membros do PaPa. Quando tentou intervir com os militares, notou que esses também já estavam infectados: a grande maioria do corpo se juntou aos populares pernambucanos durante a chamada Festa do Chapéu, em que todos ficavam nus, mas eram obrigados a cobrir a cabeça de alguma forma. Apesar dos comentários preocupados das Senhoras de Santana, relatos indicam que a festa foi mais de "liberdade arbitrária" do que expressão sexual.

Terminou ontem a grande preparação para o impeachment do presidente da República; amanhã, no fim da tarde, tudo estará decidido. A atual conjuntura indica mais uma grande vitória do PaPa, que irá indicar o atual presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Doidão, para ocupar o cargo.

Marcos foi entrevistado hoje e disse que "...as políticas econômicas e fiscais serão mantidas..."; "...não será feita nenhuma grande mudança no câmbio ou na taxa de juros..."; "...investimentos em infra-estrutura continuarão no mesmo ritmo...". Até agora, ninguém sabe se ele está de brincadeira.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Pede pra sair, Inácio Araújo


Não tenho nada contra críticos de cinema; pelo contrário, gosto muito de procurar comentários interessantes sobre filmes, em especial sobre os de que amo e os que odeio. Mas as resenhas do Inácio Araújo, crítico oficial da Folha de São Paulo, acabam sempre me chamando a atenção pela obviedade e, às vezes, pela superficialidade. Leio a crítica e fico me perguntando: "Mas será que ele prestou atenção no filme? Nem parece o mesmo que assisti.", ao que ele responderia: "Não havia nada ali que me fizesse prestar atenção.". É como se o filme não fosse digno de ser assistido por ele, e tudo o que fosse encontrado na projeção seria uma consequência da (segundo ele, péssima) premissa inicial. Não há nada que preste em um filme que não esteja no rol de seus filmes assistíveis: o gosto pessoal dita a resenha.

Isso não é exclusividade dele: muito mais fácil encontrar entre os filmes aclamados pela crítica um dramalhão do que uma comédia. Mas estou me alongando.

Hoje a Folha publicou um texto do Inácio Araújo discutindo semelhanças e diferenças entre o Tropa de Elite e o Rambo 4, que acabou de estrear nos cinemas brasileiros. Não assisti a Rambo 4 (ainda), mas resolvi discutir alguns de seus comentários porque (mesmo sem ter visto o filme) alguns erros me pareceram óbvios.

Inácio cai rapidamente na confortável posição de acusar o Capitão Nascimento de ser um herói incorreto, coisa que qualquer aluno de quinta série consegue fazer. E Rambo seria o herói ideal, eficiente no que faz, representante e conectado ao mundo que defende (pelo menos no que se refere à sua eficiência). "Como se nossa experiência cultural conduzisse a um tipo de esquizofrenia, em que nos miramos e de certa forma aspiramos ao heroísmo cultivado pelo cinema norte-americano, mas somos simplesmente incapazes de inserir esse tipo de experiência na nossa vivência cotidiana. Porque Nascimento é tragicamente cortado de sua sociedade."

Nada mais superficial.

Em primeiro lugar, se Rambo e Nascimento se parecem em alguma coisa, é na eficiência acima de tudo, acima das regras, procedimentos e, mais claramente ainda, acima da burocracia. Rambo e Nascimento são cowboys que resolvem os problemas sem depender da estrutura estabelecida: no caso de Nascimento, sem o aparato legal e, no caso de Rambo, sem toda a estrutura militar, vista como dispensável.

Em segundo lugar, nada mais desconectado de seu mundo do que Rambo. Mesmo sem considerar o primeiro filme (em que ele é tratado como um mendigo, espancado e desprezado em seu próprio país - já sendo um herói de guerra), Rambo nunca teve uma relação muito boa com seu país em seus outros filmes, nem mesmo no mundo militar, em que atua normalmente sozinho. No mundo civil, ele se considera desprezado e infeliz:

Trautman: Você não pode continuar fugindo, John. Você está livre conosco, volte com a gente.
Rambo: Voltar a quê? Meus amigos morreram aqui, parte de mim morreu aqui.
...
Trautman: Então o que você quer?
Rambo: O que eu quero, o que eles querem, o que qualquer cara que veio pra cá e cuspiu suas tripas e deu tudo o que tinha para dar quer! Que o meu país nos ame tanto quanto o amamos. É tudo o que eu quero!


Inácio afirma que Rambo seria conectado ao seu mundo pela sua eficiência, mesmo desprezado por seus concidadãos. Rambo não se importa com a sua eficiência; ele não quer guerrear, não quer matar - quer voltar a seu país e ser respeitado. Seu país se lembra dele somente em momentos de necessidade, em que é convocado (o Capitão Nascimento age da mesma forma, mas parece totalmente absorto pelo mundo do crime).

Nascimento, segundo o crítico, é mais fracassado do que o Homem-Aranha por não conseguir preservar seu casamento e não ter direito à paternidade. Que Nascimento é um desajustado, é óbvio, mas o autor deixa de considerar que esse é um tema muito comum não só no cinema norte-americano mas também em qualquer atividade do mundo moderno (além de convenientemente ignorar que Rambo também é um pária):

Atendo-me somente aos filmes policiais, agora consigo me lembrar do Fogo contra Fogo (brilhante, em um jogo de bandido e mocinho que mais parece uma brincadeira com espelhos) - em que ambos os personagens acabam sozinhos (e um deles, morto); do Sobre Meninos e Lobos - em que o personagem de Kevin Bacon foi recentemente abandonado pela esposa; e do Chamas da Vingança - em que o personagem de Denzel Washington não consegue nem parar de beber, quanto mais conviver em sociedade. Jack Bauer (muito mais parecido com Nascimento do que Rambo) perde sua esposa, vítima de terroristas (o que o faz sentir culpado, obviamente).

Se o tema é tão comum, como afirmar que o herói de Tropa de Elite seria uma cópia fracassada do que cinema americano produz? Dizer que o Tropa é cinema americano, pra mim, já é ir longe demais (principalmente sem explicar nada para corroborar a afirmação); ainda mais dizer que o Capitão Nascimento é diferente (e falho) baseado em uma característica em que é idêntico a seus pares.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Expelled

Há algum tempo o proeminente evolucionista Richard Dawkins foi levado a crer que estava dando entrevistas para um documentário sobre os conflitos e semelhanças entre religião e ciência, quando na verdade os entrevistadores estavam juntando informações para um "documentário" defensor do design inteligente chamado de Expelled.

O "documentário" afirma que não há professores universitários adeptos do design inteligente porque é negada a eles a entrada em qualquer universidade.

Agora, os produtores do "documentário" irão pagar a escolas que exibirem o filme a seus alunos, em doações de até US$10.000,00. O site também paga US$500,00 por opiniões aproveitadas e canções "didáticas". Criacionistas, aproveitem! Aparentemente, os idealizadores não estão muito confiantes da qualidade de seu produto.

Comentários:
1 - Dawkins também pode ser enganado, o que me leva a crer que mesmo um grande cético ateu ainda tem algo de crédulo bem no fundo de seu ser.
2 - Não há cientistas adeptos do design inteligente porque não podem entrar nas universidades ou são os adeptos do design inteligente que não conseguem ser cientistas?
3 - Pagar para assistir filme? Não me pagaram nada nem quando assisti Até o limite da honra. O "documentário" deve ser muito bom mesmo.

IURD vs Folha

Pataquada essa história da Igreja Universal processar a Folha. A legislação brasileira com certeza é retrógrada - tanto que permitiu ao Roberto Carlos tirar de circulação uma biografia que o desagradou. Mas esse caso é ainda pior: tudo indica que o objetivo da Universal é intimidar os meios de comunicação a não mexerem com ela.

Fico imaginando o que aconteceria se cada católico processase a IURD pelo caso do chute na santa. Os fiéis da igreja Universal deviam gastar suas energias e seus processos com o Edir Macedo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Involução Parte 2 - Meu colega físico

Desde que ele foi indicado para trabalhar conosco, eu sentia que alguma coisa não estava muito do jeito que eu esperava. O rapaz, estudante de Física, tinha alguns comportamentos esquisitos e gostava de forró... nada contra, mas não era compatível em nada com a minha imagem do estudante de Física padrão.

Até aí, nada de mais. O problema começou quando ele percebeu que eu me interessava pela área e começamos a conversar sobre notícias e curiosidades. Notei que ele preservava uma postura levemente arrogante durante nossas conversas, mas eu acreditava que era tudo justificável porque ele passava boa parte dos seus dias calculando integrais complicadíssimas e eu só lia as notícias do Slashdot. Ele tem suas razões, eu pensava. E eu sabia, ainda sei, que se eu for me alistar para uma seleção antes do fim do mundo, a profissão que vou escolher é de computeiro, não físico*.

Mas as coisas engrossaram de verdade quando ele veio me falar do moto contínuo. "Ai, cara... você não tá falando sério, não é?", eu disse. E ele disse que estava e que tinha visto em uma revista de divulgação científica importante de cujo nome ele (convenientemente) não se lembrava. Eu dizia "Cara, mas e a termodinâmica, e a segunda lei, rapaz?", e ele respondia (com cara de quem não sabia do que eu estava falando) que as teorias estão aí para serem quebradas e que o que é realidade hoje há 10 anos atrás era utopia. E eu dizia (já sem esperança de convencê-lo em seu território) que se isso tudo fosse verdade todo mundo estaria falando disso nesse momento e os jornais todos estariam publicando e os carros estariam sendo movidos com ímãs. E ele disse que logo eu ia ver que tudo o que ele estava falando era verdade. Para evitar uma briga, deixei ele falando sozinho.

O tempo passou; eu continuava abastecendo meu carro com gasolina.

Há algum tempo atrás, ele veio com uma novidade: tinha descoberto como ganhar na MegaSena se utilizando de um infalível cálculo probabilístico. Fiquei ansioso, já estava pedindo 10% do prêmio anterior quando ele me deu a notícia que meu (grande) lado cético já esperava: ele ainda não havia ganhado.

Voltei a mim: eu conhecia o rapaz, trabalhava com ele, e apesar de não considerá-lo totalmente desprovido de inteligência, também não era nenhum gênio. Perguntei: "Mas cara, a chance de ganhar não é 60!/(54! * 6!)?" (O que dá mais ou menos 1/50 milhões). E ele disse que não, e que tinha aprendido na faculdade uns cálculos probabilísticos muito complicados que explicavam que as coisas não eram bem assim, e que era possível descobrir os números que seriam sorteados se todos os cálculos fossem realizados corretamente, mas que eram muito complicados.

Pausei a conversa e pensei. O que eu queria ter ali conversando comigo era um gênio com um potencial imaginativo incrível que havia descoberto algo extraordinário. Eu poderia ajudá-lo a realizar os cálculos e ficaríamos ricos. Mas, na verdade, o que eu tinha era um estudante de graduação em Física, com um certo histórico de alegações infundadas e que agora afirmava algo que me parecia completamente fora da realidade. E, se fosse verdade, alguém já teria feito e o jogo todo não faria mais sentido. Resolvi não ser crítico demais adotar o método socrático... comecei a fazer perguntas.

"Mas olha, se você descobriu como fazer essas contas todas, porque você ainda não ganhou nada?", perguntei. Ele disse que já tinha jogado perto e acertado cinco dezenas mas que dava muito, muito trabalho. E eu disse: "cinco dezenas? Ganhou a Quina?", ao que ele respondeu que não, que dessa vez só estava testando. Mantive a linha: "Mas então, vamos fazer no próximo sorteio, você me ensina a fazer as contas, dividimos o trabalho e a grana do sorteio." Ele disse que não, que eram vários dias de contas, trabalho demais. Eu: "mas você não acha que 10 milhões justificam uma semana ininterrupta de trabalho?". Ele desconversou falando da complicação dos cálculos.

Mudei minha tática: "Então, se dá tanto trabalho, vamos colocar os cálculos no computador. O computador faz as contas muito melhor do que nós fazemos.", disse eu feliz ao falar sobre um assunto que domino. Mas ele disse que não era possível colocar as contas no computador, que não dava, e eu insistia e queria saber por que motivo, e ele finalmente disse que era porque envolvia o Princípio da Incerteza e outros aspectos não computáveis da Quântica.

Parei a discussão. A Lei de Godwin reza que "Se uma discussão na Internet se prolonga por algum tempo, a chance de aparecerem comparações envolvendo Hitler ou nazistas se aproxima de 100%": há algum tempo tenho notado que a Física Quântica é o equivalente da Lei de Godwin para as baboseiras pseudo-científicas (não que a Física Quântica seja baboseira em si mesma, mas seu nome é utilizado como ferramenta protetora de baboseiras). Fui menos agressivo do que esperava; só disse a ele para fazer as contas que julgasse necessárias e se lembrar dos colegas de trabalho caso tudo funcionasse.

O tempo passou; meu carro agora é movido a álcool e meu colega não trabalha mais conosco. Tive notícias dele há alguns dias, deixou o ramo de computação embarcada e trabalha como webdesigner. E continuamos os dois pobres.

* - Havia um teste na minha juventude em que você tinha que selecionar 10 pessoas para repovoar o mundo em um grupo de umas 30. Havia um médico com câncer, uma mulher deficiente mental que estava grávida, e por aí vai. Andei procurando o teste na internet mas não encontrei nada.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Brincando de TagCloud

Fiz uma Tag cloud no site TagCrowd.com a partir dos textos publicados em 2008 por Olavo de Carvalho em seu site. As tags mostram muito bem os assuntos. Dá quase para completar as lacunas.



created at TagCrowd.com


Indiana Jones e o reino da bengala de cristal



Há algum tempo tenho pensado nesse filme... começa com o Indy usando um andador, daqueles usados por velhinhas, tentando entrar em uma tumba. Ele não consegue e dá a volta, usando a rampa para deficientes.
Chegando a uma inscrição na parede, ele começa a tatear os caracteres, tentando lê-los em Braile (os óculos não ajudam com tão pouca luz). A ação só seria interrompida pelas frequentes sonecas do protagonista ou pela sua absoluta falta de memória. O caderninho não seria utilizado apenas para anotar o misterioso significado de inescrutáveis hieroglifos, mas também para lembrar nosso herói do horário de seus medicamentos.

Queria ser bom em flash para fazer uma animação disso.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Oh fuck, the internet is here


O culto conhecido como Cientologia ficou famoso por, entre outras coisas, recrutar famosos como Tom Cruise, Juliette Lewis e até a mulherzinha que faz a voz chata do Bart Simpson (também conhecida como Nancy Cartwright). Também é conhecida por acusações de charlatanismo, roubalheira, lavagem cerebral, perseguição contra adversários da "igreja" e até assassinato. Isso tudo é muito bem documentado, não estou inventando nada.

Na França, o parlamento emitiu um relatório classificando a Cientologia como um culto perigoso. No Reino Unido, Alemanha e no Canadá a igreja não goza de nenhum benefício de instituição religiosa.

Pois bem, isso já faz algum tempo. Aí, no começo do ano, o Tom Cruise apareceu em um vídeo no Youtube falando algumas coisas bem reveladoras.... entre elas que só cientologistas poderiam realmente cuidar das pessoas que sofreram um acidente de carro, e que os cientologistas são os únicos capazes de curar viciados em drogas (veja aqui).
O vídeo vazou de uma campanha interna da própria Cientologia e os cientologistas ficaram bem bravos com o vazamento. Ameaçaram o Youtube, que tirou o vídeo do ar... mas já está lá de novo e em vários outros sites mais corajosos, como o Gawker.com.

Alguns anônimos da internet se juntaram e começaram um movimento por conta dessa história. Criaram um manifesto e colocaram no Youtube: A Message To Scientology. Então, atacaram sites da Cientologia, derrubando vários servidores. Depois, no dia do aniversário de Lisa McPherson, que morreu nas mãos do culto, organizaram um manifesto a la V de Vingança (fotos do protesto podem ser vistas aqui). A melhor palavra para descrever o protesto (e aqui me perdoem o anglicismo) é awesome. Cheia de irreverência e jargões de Slashdot: tl;dr, The cake is a lie e, é claro, "Oh, fuck, the internet is here". Não tem coisa melhor do que rir de idiotas que se levam a sério. Ah, vejam também isso aqui, um vídeo do South Park rindo dos Cientologistas.



Tudo isso me fez lembrar do extinto Marketing Hacker, cujo autor se esbaldava em falar de movimentos internetescos como o all your base are belong to us: ele não via apenas uma pequena besteira sem sentido correndo a web, via um novo movimento que estava surgindo e que poderia, em breve, mudar a história, acabar com a globalização, encontrar cabelo em ovo, etc.

Sempre achei que essas modas de internet eram úteis só pra dar umas risadas, mas depois dessa história da Cientologia e também do movimento surgido quando o Digg.com tirou do ar os códigos do hd dvd me fazem pensar duas vezes a respeito. Posso continuar achando que nada vai mudar muito, mas também vou querer participar da farra.

"Knowledge is free.

We are Anonymous.

We are Legion.

We do not forgive.

We do not forget."

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Involução - Parte 1

Do site Renasce Brasil, mantido por um senhor chamado Valvim M. Dutra:

"Que comentário poderíamos fazer a respeito da perfeita localização do umbigo e do ânus?... Já pensou se por evolucionismo ou por obra do acaso, fosse ao contrário, o ânus no lugar do umbigo?... E o “bumbum”, seria um enorme calo evoluído de si mesmo, ou uma almofada natural devidamente planejada para sentarmos confortavelmente?..."

Em primeiro lugar, o sr. Valvim deve reconhecer que, se ele e todo o resto do mundo tivessem nascido com o ânus no lugar do umbigo, ele citaria o mesmo exemplo como localização perfeita: afinal, se não fosse assim, ele não poderia se debruçar sobre a privada para ler as notícias todas as manhãs.

O que descaradamente falta ao sr. Valvim, assim como a muitas outras pessoas, é a compreensão do conceito de Seleção Natural. A evolução não funciona somente com o acaso; é o acaso selecionado. Além disso, a evolução só atua diretamente nas características que afetam a capacidade de sobreviver e se reproduzir. Por exemplo (as coisas não são bem assim, mas vou extrapolar para explicar), imaginem que alguém sofra uma mutação e nasça com quatro braços, todos completamente funcionais. Pois bem, talvez um par a mais de braços seja bem útil, mas não acredito que esse alguém faria sucesso entre as mulheres (o que, no final, acabaria ocasionando a falta de filhos do infeliz rapaz e eliminando a útil característica por seleção natural).

Quanto à idéia da evolução criando um grande calo no lugar das nádegas... pois bem, não entendo o raciocínio. Há alguma vantagem evolutiva de ter um grande calo no lugar das nádegas? Não consigo imaginar nenhuma. Talvez ele esteja confundindo Lamarckismo com Darwinismo (afinal, os pais vão se sentando sobre as nádegas, os filhos, os filhos dos filhos... para ele, o calejamento passa de pai para filho... seria isso?).

O sr. Valvim continua:

"Entretanto, a característica mais significativa e esclarecedora, da Criação ou Evolução, está na incontestável beleza e harmonia artística do conjunto humano. Observe a beleza e a harmonia do rosto com os cabelos, dos olhos com as sobrancelhas, das mãos com as unhas, das formas arredondadas de braços e pernas e suas perfeitas proporções."

Eu poderia fazer melhor, mas não resisto à tentação de citar uma historinha do Astronauta da Turma da Mônica. Em uma viagem interplanetária, ele conhece seres que se consideram tão feios que não conseguem sair do lugar escuro onde vivem. Depois de muita conversa, eles saem para a luz e observam que não são tão feios assim (mesmo com três olhos, verdes, com um número ímpar de braços, etc) - na verdade, passam a se achar bonitos. Mas quando olham para o Astronauta... argh, que criatura feia, terrível!

O sr. Valvim é simples, tão simples que não chega a cometer os erros que a maioria dos criacionistas cometem; ele se apóia em idéias ainda mais básicas e não percebe que se utiliza de um sem-número de dogmas para falar do que não entende. Mas, pensando bem, até que se debruçar sobre a privada não seria uma idéia tão ruim assim.

PS: A página também fornece uma ótima definição de "Espírito Santo" para os tempos de miguxês: "Fenômeno celeste de difícil definição, mas o seu efeito pode ser comparado a uma vacina espiritual que contém um programa “antivírus” e de comunicação “on-line”. Esta "vacina" protege os seres humanos contra vírus espirituais (“espíritos imundos”, parasitas que se hospedam na mente), e permite comunicação via, linguagem da fé, com o Criador."

Evolução... ou nem tanto


Hoje comecei a noite procurando sites sobre criacionismo; normalmente me divirto muito com a ignorância alheia. Mas estou tão perplexo com o que andei lendo que acabo duvidando um pouco da tão falada Teoria da Evolução. Afinal, como a espécie humana pode ser tão evolutivamente desenvolvida e, ao mesmo tempo, apresentar tantas aberrações?

Na internet existem milhões de FAQs sobre Evolução. Mesmo assim, os criacionistas e adeptos do design inteligente repetem as mesmas balelas sem medo nenhum de estarem falando besteira. Respeito as pessoas que têm uma visão de mundo diferente da minha, mas elas têm que entender que o que acreditam é religião, não ciência. Acredite no que quiser, mas não na minha aula de Biologia.

Pois bem; como repetição nunca é demais, vou fazer uma pequena série temática com baboseiras que andei lendo por aí (não só criacionistas; qualquer coisa vale). Acredito que assunto é o que não vai faltar.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Tradução, legenda e dublagem



Não gosto muito de falar mal de dublagem; pra mim, é ponto pacífico, algo como chutar cachorro morto. Os problemas, óbvios, são dois: falta de sintonia do som com a imagem e os achatamentos e conversões bizarras que os tradutores são obrigados a fazer para diminuir o primeiro problema.

Mas nem mesmo esses casos explicam algumas das anomalias que encontramos por aí. Estava vendo "Duro de Matar 2" dublado na Fox e liguei o closed caption pra deixar o som bem baixo e não acordar o nenê. Em uma das cenas em que o Bruce Willis se arrasta por um túnel de ventilação, a legenda mostrou:

- Fuck, what's happening here?

E na dublagem, ele disse:
- Hora de entrar em ação!

Não consigo entender o que quiseram fazer. Fico imaginando se os dubladores não gostaram do texto original e resolveram melhorar o diálogo: "Isso aqui está uma droga, vamos dar uma ajeitada."

Outro exemplo ótimo é um episódio do Futurama em que alguém estava no topo de um prédio pensando em se suicidar. No original, todos os personagens gritavam "não pula, não pula!" e o Bender, claro: "Pula logo!". Na dublagem, o Bender dizia: "Não pula!" assim como todos os outros. Uma piada a menos.

Nomes de filmes são um capítulo à parte. Já vi alguém tentando defender as mudanças nos nomes dos filmes dizendo que existem muitos títulos com nome parecido e eles evitam dar nomes iguais a filmes diferentes. Pois bem, não existe nenhum filme chamado "O bom, o mau e o feio" em português, mas "The good, the bad and the ugly" foi traduzido como "Três homens em conflito". "Mystic River" virou "Sobre meninos e lobos". E a genial tradução de "My girl" para "Meu primeiro amor" acabou gerando a aberração incrível chamada de "Meu primeiro amor 2".

Borges escreveu em um de seus muitos ensaios que reclamar da tradução por ela não ser fiel ao original é um contra-senso, já que o original também é uma tradução para uma linguagem humana da idéia que o autor teve para a obra. Dessa forma, qualquer obra seria uma tradução, e qualquer tradução seria uma obra em si mesma. E claro, há muito mais obras ruins do que boas, como em quase toda a produção humana.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Relembrando a adolescência


Faith No More, Rock in Rio 91 (We care a lot e Epic): http://www.youtube.com/watch?v=BclS5syB9Zg
O maior show do FNM até então. Muito legal... o Mike Patton parece meio perdido mas, mesmo assim, é muito bom

Faith No More fazendo cover de War pigs: http://www.youtube.com/watch?v=bRt1-Oobdzg
Grooooowl em 4:54. Dá medo

Black Sabbath, ao vivo em 1970 (Paranoid): http://www.youtube.com/watch?v=b89KG9zDpNU
Demora pra começar, mas é memorável

Nirvana, Tell me where did you sleep last night: http://www.youtube.com/watch?v=gsB9dWXADMo
My girl, my girl, don't lie to me, tell me where did you sleep last night....
Sem vídeo, só a música, mas a versão é ótima


Queen, Radio Gaga e Bohemian Rhapsody: http://www.youtube.com/watch?v=4FNoIDgNE6o
Goodbye, everybody, I've got to gooooooo

U2, Sunday Bloody Sunday: http://www.youtube.com/watch?v=dujuQ3wuZ9Y
Com direito a discurso. Mas gosto dessa música assim, cheia de ativismo: fuck the revolution!

Metallica, em 1991, Motorbreath e BreadFan: http://www.youtube.com/watch?v=fpg3T1RNGCs
Those people who tell you not to take chances
They are all missing on what life is about
You only live once so take hold of the chance
Don't end up like others the same song and dance