quarta-feira, 31 de março de 2010

Jornalistas, advogados e os Nardoni

Semana passada assisti a um filme chamado 'A caçada' (The Hunting Party), do qual nunca tinha ouvido falar e que me causou uma boa surpresa. O filme conta a história de um trio de jornalistas procurando um criminoso de guerra sérvio diante do descaso absoluto da ONU e da comunidade internacional. A história é inspirada em eventos reais; de fato, Radovan Karadžić, acusado pela morte de mais de 7500 muçulmanos, só acabou sendo preso em 2008 - bem depois da guerra, que acabou em 1995.

O filme me fez pensar naquela história sobre a distância que os jornalistas (teoricamente) têm que manter sobre os eventos que descrevem. E me lembrei do 'jornalismo' porco e tendencioso da revista Veja - não as colunas de opinião, o texto das notícias, mesmo. E aí me pensei também no advogado dos Nardoni, e no fotógrafo que tirou aquela foto famosa do urubu esperando a criança sudanesa morrer.

Então me veio à mente um episódio de House MD em que Chase, um dos médicos assistentes, leva intencionalmente um paciente à morte por saber que ele, um ditador africano, vai promover o genocídio de uma minoria étnica em seu país.

De um jeito mais ou menos claro, em todas essas situações os 'deveres profissionais' se contrapoem aos 'deveres de consciência'. Imaginem a cabeça do fotógrafo no caso da criança morrendo de fome: 'O que devo fazer? Bater a foto ou tentar salvar a criança? Mas se eu salvar essa, quantas outras milhares poderiam ser salvas com a sensibilização que a foto pode causar?' - etc, etc, etc. Ele poderia também, claro, bater a foto e depois salvar a criança.*

Eu tenho duas opiniões sobre o assunto: 1) que a consciência é a juíza suprema de todas as situações e 2) que alguns trabalhos são extremamente sujos mas têm que ser feitos por alguém. Alguém precisa defender os Nardoni, e precisa fazer isso da melhor forma que julga possível. Alguém precisa tirar a foto da criança morrendo de fome. Alguém precisa fazer a cirurgia do bandido que matou a criança e depois foi atingido por um policial. Não julgo essas pessoas (o advogado, o fotógrafo, o médico) e não acredito que o que elas façam seja intrinsecamente errado (a não ser, por exemplo, que o advogado minta deliberadamente, o que não deve ser nem um pouco raro).

Por outro lado, eu prefiro acreditar que no calor da decisão eu tomaria a decisão correta - ou melhor, correta de acordo com a minha consciência, já que é ela que me informa o que eu deveria fazer, mesmo contrariando outros interesses.



* O fotógrafo, Kevin Carter, sul-africano, se suicidou em 1994 deixando um bilhete em que fala de sua falta de dinheiro e da perseguição dos horrores da fome e da guerra que presenciou. Triste. Não coloquei ela aqui porque... ah, não. Não. O mundo também é um lugar bonito, apesar de tudo isso.

domingo, 21 de março de 2010

Starcraft, uma explicação, ou nenhum dos dois.


Durante algum tempo, joguei muito Starcraft. Nada como os coreanos malucos que morrem depois de jogar por 50 horas seguidas, mas foi muita coisa, sim.

Bom, o caso é que, quando você conhece algo sobre Starcraft (ou sobre qualquer outro jogo de RTS), sabe que se o tempo está passando e você não está apertando botões alucinadamente, o seu tempo está sendo perdido. Se você está esperando por alguma coisa, é porque enfileirou as tarefas erroneamente. E é nessas horas que o seu adversário chega com o rush de zealots enquanto você pateticamente se defende com meia dúzia de zerglings. Bons jogadores encadeiam as tarefas de forma que elas se encaixem umas nas outras, sem que seja necessário nenhum intervalo entre uma e outra. O tempo é aproveitado ao máximo.

De alguns dias pra cá, estou me sentido meio um noob de Starcraft com relação ao meu dia-a-dia. Tenho milhões de coisas pra fazer, preciso encadear tudo, mas jogo muito tempo fora - por exemplo: estou parado, mas poderia estar colocando roupa pra secar se tivesse me lembrado de colocar elas pra lavar mais cedo. E, por conta disso, o blog espera, sofre, praticamente agoniza por ser um luxo, um capricho ('necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais').

And now for something completely different, eu achava que meus dias eram corridos na faculdade. Prff. Noob.