segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu, eu mesmo e o nada


Quando comecei com o digitando, tinha uma proposta um pouco diferente dos meus vários blogs anteriores: ser mais pessoal. Com o passar dos dias e dos posts, meu 'eu' impessoal voltou ao comando e colocou a proposta pessoal no mesmo lugar de onde normalmente ela se manifestava: por trás das coisas que eu escrevo.

Mas aí, na semana passada, a Deh me mandou um post da Lola sobre ateísmo e resolvi colocar aqui alguma coisa sobre o assunto, com um tom mais pessoal, à moda dos primeiros posts.

Bom, tudo começou quando eu nasci em uma família católica, bem católica. Meu pai era Ministro da Eucaristia e, segundo ouvi dizer, desejava ver seu mais jovem filho, eu, formado padre. Bem, não aconteceu. Eu fui batizado, fiz primeira comunhão, crisma, encontro de jovens, novenas, orações, fui comentarista, etc, etc, etc. Só não fui coroinha. Pensando nisso agora, lembro de um episódio muito engraçado em que uma tia me colocou, quando eu tinha uns 10 anos de idade, pra assistir um documentário sobre Evolução. Fiquei confuso, bem confuso.

Depois, devagar, bem devagar mesmo, fui me distanciando do Catolicismo para cair em uma espécie de Deísmo fajuto que eu mesmo definia. Aquela conversa de sempre: 'católico não-praticante'. Ou melhor, 'católico fajuto', porque pra ser católico é preciso ser praticante, certo? Nessa época me envolvi com uns amigos que se interessavam por Nova Era, cristais, Ashtar Sheran e tudo que fosse mais ou menos próximo disso. O assunto basicamente só girava em torno desses tópicos, conversas intermináveis sobre o lado oculto da Lua, combustão espontânea e tudo mais.

Nessa época, eu praticava artes marciais e na academia ouvia outras histórias, também diferentes, sobre 'energia' e respeito aos ancestrais - histórias diferentes do que era dito na igreja e das conversas sobre o Ashtar. Comecei a me sentir meio deslocado porque achava boa parte daquilo tudo bobagem - bonito, mas nem um pouco palpável.

Um dia me toquei que nem todo mundo poderia estar certo ao mesmo tempo. Entre a academia, os cristais e a igreja, pelo menos dois estariam necessariamente errados. Mas por motivos logísticos, deixei a academia e as conversas sobre cristais, assim como já tinha deixado a igreja. Segui com a vida, sem pensar muito no assunto.

Então veio um longo e mais ou menos aplicado período de aprendizado sobre ciência e filosofia, Carl Sagan, Descartes, Kant, Hume, Bertrand Russell, Evolução, Física, e as coisas foram se acumulando até chegar ao agora, em que escrevo isso.

Meu interesse por religiosidade aumentou novamente, apesar de ser uma preocupação essencialmente muito diferente da que eu tinha quando menino ('Eu acho que estava fazendo o sinal da cruz invertido. Será que se eu fizer o sinal da cruz tocando o lado direito antes do esquerdo Deus vai desconsiderar todas as minhas orações e me mandar pro inferno?'). Conheço as cinco vias, conheço o argumento Kalam, provavelmente sei defender o teísmo (pelo menos racionalmente) melhor do que oito entre dez teístas.

Mesmo assim, conforme o tempo passa, mais as ideias religiosas me parecem estranhas. Não só o Cristianismo (que tem um belíssimo paradigma moral, que não é seguido por religiosamente (ops, palavra ruim) ninguém fora algumas digníssimas exceções) mas também todas as religiões sobre as quais me informei com um pouco mais de profundidade. Cada vez mais me parecem com uma tentativa desesperada do ser humano de ganhar um confete transcendental, sentir uma importância que de fato não temos. Sentir que somos especiais. Sentir que podemos evitar o abismo niilista que está ali à frente, a um passo. Não quer dizer que nada disso esteja necessariamente errado. Só me parece fácil demais. Conveniente demais.

Enfim, não me envergonho de ser humano, mesmo com toda a pregação nesse sentido que é feita pelas mais diversas religiões. E é aqui que eu estou agora, (sempre) tentando me resolver, tentando pensar o passo seguinte. Vez em quando olhando pra baixo, vez em quando olhando pra cima. O que me aflige, de fato, é que tanta gente não consiga deixar os demais encontrarem seu caminho, seguirem sua vida. Digo isso pra todos, inclusive eu mesmo. Viva a diversidade.

E eu já postei isso antes, mas vale a pena repostar - de 'O nome da rosa':

"Mas então", ousei comentar, "estais ainda longe da solução..."
"Estou pertíssimo", disse Guilherme, "mas não sei de qual."
"Então não tendes uma única resposta para vossas perguntas?"
"Adso, se a tivesse ensinaria teologia em Paris."
"Em Paris eles têm sempre a resposta verdadeira?"
"Nunca", disse Guilherme, "mas são muito seguros de seus erros."
"E vós", disse eu com impertinência infantil, "nunca cometeis erros?"
"Frequentemente", respondeu. "Mas ao invés de conceber um único erro imagino muitos, assim não me torno escravo de nenhum."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Lord of the Skeptics

É com muito orgulho que a Gazeta Interestelar anuncia a todos a invenção do Macro-Transdimensionador, que permite ao seu usuário conversas com seres de universos paralelos ao nosso. A invenção surgiu no Laboratório de Pan-universalidade, dentro do Departamento de Física da Universidade Européia de Ciências. Como sempre, é a Gazeta trazendo a vocês as maiores novidades da vanguarda científico-tecnológica, além dos já habituais cupons de desconto.

Para comemorar tão importante descoberta, conseguimos negociar com os inventores o agendamento de uma entrevista com um personagem da Terra Média, dentro de Arda, um planeta imaginado e claramente detalhado por Tolkien no início do século XX. As histórias de Tolkien ficaram largamente conhecidas na Terra durante o século XX e XXI, e contam até hoje com um número enorme de fãs incondicionais.

Infelizmente, não conseguimos que nenhum personagem conhecido nos concedesse seu tempo. Mesmo assim, a entrevista não deixa de ser interessante; poderemos conversar com um personagem com uma visão diferenciada e singular dos eventos conhecidos pelos fãs das histórias da Terra-Média.




Gazeta: - Por favor, nos diga o seu nome e o que faz aí na Terra-Média.
Blenyc: - Meu nome é Blenyc, e sou presidente da Associação Humanista Secular de Gondor.

G: Associação Humanista? Existe lugar para o humanismo em Arda?
B: Eu diria que o humanismo chegou para ficar. O povo da Terra-Média está cansado de crenças dogmáticas que relegam a vida ao segundo plano. Estamos cansados de crendices, de fadas, de anjos e demônios. Estamos cansados de explicações miraculosas. Queremos a Terra-Média para as pessoas que realmente existem nela.

G: E quanto a elfos, hobbits e anões?
B: Eles também se enquadram em nossa definição de Humano. Mas eu nunca conheci um elfo, e não conheço ninguém que tenha visto um. Segundo a história, eles foram extintos durante a Grande Guerra. Se foi assim, eles conseguiram sair sem deixar nenhum rastro.

G: Blenyc, vou deixar algo claro: todo o nosso conhecimento sobre o mundo de vocês envolve o que chamamos de...'pensamento mágico'. A história mais conhecida é a saga do Um Anel...
B: Sim, a Grande Guerra, a maior de nossa história.

G: ...que está cheia de relatos sobre feitos cheios de magia e fantasia, tanto de protagonistas quanto de personagens menores.
B: É o que a história conta. Não quer dizer que seja verdade. Por exemplo, que situações 'mágicas' você citaria?

G: Por exemplo, a história do exército fantasma lutando ao lado de Aragorn durante a Batalha do Pelennor.
B: Veja... pra começar, tudo isso já se passou há muito tempo, então é muito difícil saber o que de fato aconteceu. Em vários relatos independentes da Batalha, Aragorn ataca à frente de um exército cujos guerreiros se movem como fantasmas, o que dá uma perspectiva totalmente diferente ao ocorrido. Com o tempo, a história contada oralmente pode ter sido alterada de forma que hoje muita gente acredita que eram realmente fantasmas que atacaram ao lado de Aragorn. Agora, entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural, eu prefiro a natural: era um exército muito bem treinado com técnicas que hoje desconhecemos.

Há pesquisas que indicam que os 'fantasmas' eram habitantes da região que Aragorn atravessou, e que depois da guerra se moveram para o norte, sem nunca saber da fama que ganharam.

G: E o Olho Que Tudo Vê?
B: Um enorme farol desenhado para se parecer com um olho.

G: E quanto aos orcs e outros monstros demoníacos?
B: Orcs não são monstros, não são demônios. São uma raça - brutal a nossos olhos por se alimentarem de carne de outros seres conscientes - que surgiu devido ao mecanismo da Evolução que vocês também já devem conhecer.

G: Sim... conhecemos. E quanto a Gandalf, o Branco? Nas histórias a que tivemos acesso ele volta da morte, entre outras proezas.
B: Gandalf com certeza foi um pesonagem importantíssimo para nossa história, e muitas de suas decisões tiveram impacto marcante no que veio a ser a vitória da Aliança. Mas tudo indica que ele era, além de extremamente inteligente, um grande ilusionista. Gandalf sabia o que precisava fazer para motivar as pessoas na direção do que ele considerava um Bem maior.

G: Não consigo deixar de perguntar: E Frodo? E o Um Anel?
B: Nada que possa ser considerado uma evidência se encaixa com os relatos sobre o Anel. A teoria mais aceita por pesquisadores históricos é que Frodo e os Grandes Anéis nunca existiram e que a mitologia em torno deles foi inventada posteriormente, provavelmente para justificar a permanência da monarquia teocrática retrógrada que temos até hoje aqui na Terra Média. Aliás, eu só posso falar nesses termos porque a entrevista vai ser publicada em outro Universo, segundo o que você está me dizendo.

Algumas pessoas ainda se agarram na literalidade das histórias da saga do Anel, mas toda vez que se descobre alguma evidência contrária ao que é descrito, cresce o número de pessoas que acredita que as histórias são metafóricas ou que foram deliberadamente inventadas.

G: E você não acredita ser estranho haver tantos relatos sobre aventuras e acontecimentos sobrenaturais, todos falsos?
B: Sim. Mas acredito que seria ainda mais estranho se os relatos fossem verdadeiros apesar de todas as evidências em contrário. E ainda mais se levarmos em conta o fato de que em nossos dias não há absolutamente nenhum evento que se aproxime da magia contida nas histórias contadas por nossos antepassados. Nada disso foi reproduzido em nenhuma ocasião que se possa chamar de confiável.

G: Você não acha a sua visão um pouco decepcionante?
B: Talvez. Eu também gostaria de viver em um mundo onde a fé move montanhas, onde anjos e demônios interferem e lutam por nossas almas. Mas quanto mais eu tento compreender o mundo, mais essa realidade fantasiosa se afasta.

Talvez você esteja mesmo certo, mas é assim, decepcionante, que a Natureza se apresentou à nossa Razão, e é assim que devemos entendê-la.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Blogger's game

- Hoje fiquei pensando no objetivo do meu blog.

- Hm... mas um blog precisa de um objetivo, de um sentido?

- É, na verdade não. É como perguntar a temperatura do número sete, né? Bom, mesmo assim, fiquei pensando nisso e acabei lembrando de 'O jogo do exterminador'.

- Mas o que tem a ver 'O jogo do exterminador' com o seu blog?

- No livro duas crianças muito inteligentes que começam a participar de comunidades sociais online, usando pseudônimos (Locke e Demóstenes). E os argumentos deles são tão sólidos que todas as pessoas começam a ler avidamente o que publicam e a seguir suas opiniões em todos os assuntos.

- É uma presunção muito grande pra um blog, não acha? Na vida real, mesmo se você fundamentar muito bem todos os seus pensamentos, há muitos outros fatores envolvidos. Muita gente fecha a janela quando o texto é longo, pra começar.

- Tem razão. Mas não te irrita que tantas pessoas francamente pouco inteligentes sejam seguidas por tantos, enquanto outras pessoas claramente mais inteligentes sejam sumariamente desprezadas?

- Você gosta dessas palavras 'absolutamente', 'sumariamente', 'claramente', 'francamente', não? Bom, e você se coloca entre essas pessoas, as inteligentes?

- É, eu gosto mesmo dessas palavras, transmitem solidez. Mas respondendo a sua pergunta, não me coloco não, existem muitos outros blogs geniais e até menos visitados que o meu. Eu só fico triste por, sei lá, não ter o meu próprio séquito de seguidores idiotas.

- E o objetivo do seu blog é ter esse séquito de seguidores idiotas?

- Na verdade, não. Mas um bom objetivo seria zombar subliminarmente dos meus seguidores idiotas de forma que só algumas poucas pessoas inteligentes entendessem.

- E você já pensou que algumas das pessoas a quem você admira também podem estar fazendo isso?

- Sim. E isso me apavora.


Disclaimer: Esse diálogo é puramente ficcional. Considero todas as pessoas que lêem o meu blog geniais até prova em contrário. Mesmo as que entram procurando por 'como ganhar na Mega sena'.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nota rápida

Eu disse isso por coisas como essas.

Vergonha, muita vergonha.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Above us only sky


Religião é sem dúvida um troço bem interessante. Gosto de ler sobre as crenças, os protagonistas, as histórias, os eventos, as explicações - dos mitos de criação à escatologia. Estudar os expoentes, etc e tal. De todas, até de religiões fictícias.

E eu me achava meio anormal até ver esse cara, que está passando 52 semanas visitando uma religião por semana. Cientologistas, budistas, humanistas, testemunhas de Jeová, adventistas, taoístas, xintoístas, wiccas, tudo. Ah, e o cara é ateu, claro. Mas as entrevistas e comentários são bem amigáveis, na ampla maioria dos casos.

Outra página interessante sobre o assunto é um desafio para 2010: World Religion Challenge 2010. A ideia é ler alucinadamente tudo o que for possível sobre religiões durante esse ano. Quanto mais, melhor. Os autores sugerem alguns 'caminhos', por exemplo o caminho das cinco grandes (ler pelo menos um livro sobre cada uma das cinco grandes: Hinduísmo, Cristianismo, Judaísmo, Budismo e Islamismo). Ou o caminho universalista (ler pelo menos um livro sobre cada uma das cinco grandes e diversos livros sobre as pequenas. Mais é melhor).

Ainda estou pensando se vale a pena dedicar tanto tempo a isso. Mas que a ideia é boa, é.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Um rompante cinematográfico

Tenho franca intolerância com alguns tipos de história. Stephen King, por exemplo, me irrita profundamente. Todo aquele dualismo do bem contra o mal, toda aquela repetição épica. Argh. O problema não é que os personagens sejam rasos; o problema é o tom de grandiosidade em uma história que essencialmente não diz nada.

Eu aceito histórias que não me digam nada, com a condição de que não sejam pomposas.

Um exemplo que cito volta e meia é aquele 'À espera de um milagre', que aparentemente veio de um livro dele. A história é, no mínimo, uma coletânea de clichês. Um homenzarrão que é super bonzinho; check. Um crime que não foi cometido pelo homenzarrão bonzinho; check. Pessoas boas que gostam do homenzarrão bonzinho; check. Pessoas ruins que não gostam do homenzarrão bonzinho; check. Isso sem contar a ridícula associação do homenzarrão com Jesus. A diferença é que o Jesus de Stephen King tem um upgrade que permite matar pessoas ruins quando assim lhe convém.

'Coisas ruins acontecem a pessoas boas.', é o que Stephen King nos diz. Jura? Eu não sabia!!!

'O caçador de pipas' também irrita, mas por um motivo diferente. Pelo visto, todos os autores de histórias sobre o Oriente sentem uma compulsão terrível de 'ligar as pontas' (bom, pelo menos nas histórias pra inglês ver). A história é até boa, os personagens até fazem sentido, até dá pra aguentar o dramalhão: mas nããão, tem que ter a cena final em que o bandidão do início da história aparece para enfrentar o mocinho. Não pode ser outro conflito, outro desenvolvimento, não! Tem que ter a marca do estava escrito, senão não é Oriente.

'Coloca mais insinuação de destino senão a dona Cotinha que gosta de assistir a Ana Maria Braga não vai entender', diz o editor para o escritor de 'Sua resposta vale um bilhão'. E a dona Cotinha, o seu Jaime, a stephanny (te amo guuuu) e sua melhor amiga mahhhhzinha todos adoram e choram e dizem que é o filme da vida deles. Até surgir a continuação de 'Dois filhos de Francisco', claro. Saco.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A cabana



Peguei o livro já imaginando que não ia gostar.

Consegui passar pelo prefácio relevando a quase santificada apresentação da história. Ignorei a descrição do personagem principal, com toda aquela aura de sapiência não demonstrada. 'Ele é quieto, mas quando fala abala o mundo' é a impressão que fica. Impressão que nunca se confirma.

Fiz de conta que o tom de 'isso pode ter acontecido de verdade' não me remeteu imediatamente ao Bruxa de Blair.

Deixei de lado a consideração de que o protagonista ou é arrogante o suficiente para acreditar que pode falar no nome de Deus (e até colocar palavras na boca dele) ou é louco e arrogante o suficiente para acreditar que Deus crie avatares para explicar as mazelas da existência humana a ele, só a ele e a mais ninguém.

Ri do fato de que as perguntas que são feitas a Deus são sempre sobre problemas morais e teológicos e podem ser respondidas (de maneira muito melhor, por sinal) por qualquer teólogo que se preze.

Como foi a origem do universo? Existe vida em outros planetas? Como podemos contactá-la? A realidade é realmente indeterminística em sua base? Como posso fornecer a outras pessoas uma prova de que o senhor é real?

Tristemente, nada disso é perguntado. A realidade que vivenciamos é, talvez, desprezível? Minto; Deus fala no livro pelo menos em um momento sobre a realidade sensível. E, pasmem... Deus é criacionista!

Quando isso apareceu, fiquei esperando explicações sobre os falsos ossos de dinossauros. Sobre a engenharia da arca de Noé. Sobre os complexos subterfúgios divinos para sistematicamente enganar os cientistas sobre métodos de datação de forma que a sua falsa descrição do mundo seja coerente e incorreta ao mesmo tempo. Mas, como eu esperava, não veio nada.

Tudo isso passou, e eu continuei. E aí veio todo um capítulo sobre sujeição, sobre desligar o cérebro, uma frase estranha sobre a necessidade de aceitar testemunhos sem comprovação (?), já que 'nada que possa ser chamado de verdade' (?) pode ser alcançado de alguma outra forma.

Pensei, então, que o Deus de 'A Cabana' não quer que eu pense. Não quer que eu use minha razão, que eu aplique as coisas que aprendo no mundo que ele presumivelmente criou para nos servir como escola, como teste. Ele me deu a razão, mas não posso usá-la; Ele não quer que eu pense, só que me funda em algo que nem consigo imaginar.

E vieram na minha mente as imagens do onze de setembro, da certeza cega que guiou os fanáticos. Eles deviam mesmo estar se fundindo em algo que não entendiam. Uma mentira assutadoramente real.

E aí eu fiz algo que quase nunca faço: desisti da leitura. De vez. Porque, assim como o autor escreve no prefácio, se eu não gostei do livro ele não foi escrito pra mim. A diferença é que eu não acho que isso o salve de ser medíocre.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Top 7 filmes que valeriam só pelo final

De um tempo pra cá, desgostei de listas. Acho elas limitadas, simplistas e, inevitavelmente, deixam participantes dignos de fora (mesmo que sejam participantes dignos de serem execrados). Mas o caso é que assisti Vidas em jogo novamente essa semana e veio uma vontade irresistível de fazer uma listinha de filmes com finais foderosos.

7 - Clube da luta - Porque, afinal, quem é Tyler Durden? E quem se importa com companhias de cartão de crédito levando prejuízo?

6 - Vidas em Jogo - Filme divertido e despretensioso. Tenso, divertido e despretensioso.

5 - O sexto sentido - Meio que obrigação de entrar nessa lista, não?

4 - Se7en - O último dos pecados é memorável (assim como todos os outros).

3 - Planeta dos macacos  (o original, claro) - Nãããão!!! Eu não acredito!!!

2 - Os suspeitos - Keyzer Söze. Medo de Keyzer Söze.

1 - Doutor Fantástico - Yahooooo!

Nova cara

Hoje estava passeando pela net e me deparei com outro blog com o mesmíssimo layout que o digitando exibia. Fiquei com uma sensação estranha, talvez a mesma que a Nicole Kidman teria caso encontrasse outra mulher na cerimônia do Oscar com um vestido parecidíssimo.

Enfim, isso que vocês vêem é o resultado parcial. Faltam alguns links e alguns ajustes... mas a cara vai ser mais ou menos essa. No entanto, sugestões são bem-vindas (e talvez nem sejam desprezadas).

(Já vi que a barra de título não é link pro home. Isso me irrita deveras, mas vai ficar pra amanhã.)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Da Europa, um exemplo



Como sempre, a igreja é muito mais esperta do que a direita conservadora. Resmungou com a notícia para ficar bem na foto, mas não rosnou, nem mordeu. Isso porque ela sabe que o que agora parece uma derrota para o cristianismo é uma vitória a longo prazo, já que a decisão abre precedentes para outras regulamentações que inevitavelmente atingirão o Islã. E, na Europa, o Islã é um adversário muito mais importante do que o laicismo.

Dawkins, Dennet, esse povo faz muito barulho, mas na prática não manda nada. Muito mais complicado do que a retirada dos crucifixos é conviver com burcas e a lei sharia, que avança perigosamente sobre tribunais ingleses.

(Talvez eu esteja errado sobre a opinião da ICAR. Não tenho nenhum embasamento para escrever nada disso fora uma opinião mais ou menos fundamentada em notícias colhidas ao léu mas, com o pouco que sei, me parece fazer sentido.

Estou brincando de ter certeza.)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Incantation

Human reason is beautiful and invincible.
No bars, no barbed wire, no pulping of books,
No sentence of banishment can prevail against it.
It establishes the universal ideas in language,
And guides our hand so we write Truth and Justice
With capital letters, lie and oppression with small.
It puts what should be above things as they are,
Is an enemy of despair and a friend of hope.
It does not know Jew from Greek or slave from master,
Giving us the estate of the world to manage.
It saves austere and transparent phrases
From the filthy discord of tortured words.
It says that everything is new under the sun,
Opens the congealed fist of the past.
Beautiful and very young are Philo-Sophia
And poetry, her ally in the service of the good.
As late as yesterday Nature celebrated their birth,
The news was brought to the mountains by a unicorn and an echo.
Their friendship will be glorious, their time has no limit.
Their enemies have delivered themselves to destruction.


Minha tradução, porquíssima como sempre:

A razão humana é bela e invencível.
Nem barras, nem arame farpado, nem destruição de livros,
Nem sentença de banimento pode prevalecer sobre ela.
Ela estabelece as ideias universais da linguagem,
E guia nossa mão para que possamos escrever Verdade e Justiça
Com letras maiúsculas, mentira e opressão com minúsculas.
Ela coloca as coisas acima das outras como são,
É inimiga do desespero e amiga da esperança.
Ela não diferencia Judeu de Grego ou escravo de mestre,
Dando a nós o estado do mundo para controlarmos.
Ela preserva frases transparentes e austeras
Da corrompida desarmonia das palavras torturadas.
Ela diz que tudo é novo debaixo do sol,
Abre o punho sólido do passado.
Belas e muito jovens são a Filo-Sofia
E a poesia; sua aliada a serviço do bem.
Foi como ontem que a Natureza celebrou seu nascimento,
As novidades que foram trazidas às montanhas por um unicórnio e um eco.
Sua amizade será gloriosa, seu tempo não tem limite.
Seus inimigos se entregaram à destruição.


Czeslaw Milosz, no prólogo do The Secular Conscience.