quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A cabana



Peguei o livro já imaginando que não ia gostar.

Consegui passar pelo prefácio relevando a quase santificada apresentação da história. Ignorei a descrição do personagem principal, com toda aquela aura de sapiência não demonstrada. 'Ele é quieto, mas quando fala abala o mundo' é a impressão que fica. Impressão que nunca se confirma.

Fiz de conta que o tom de 'isso pode ter acontecido de verdade' não me remeteu imediatamente ao Bruxa de Blair.

Deixei de lado a consideração de que o protagonista ou é arrogante o suficiente para acreditar que pode falar no nome de Deus (e até colocar palavras na boca dele) ou é louco e arrogante o suficiente para acreditar que Deus crie avatares para explicar as mazelas da existência humana a ele, só a ele e a mais ninguém.

Ri do fato de que as perguntas que são feitas a Deus são sempre sobre problemas morais e teológicos e podem ser respondidas (de maneira muito melhor, por sinal) por qualquer teólogo que se preze.

Como foi a origem do universo? Existe vida em outros planetas? Como podemos contactá-la? A realidade é realmente indeterminística em sua base? Como posso fornecer a outras pessoas uma prova de que o senhor é real?

Tristemente, nada disso é perguntado. A realidade que vivenciamos é, talvez, desprezível? Minto; Deus fala no livro pelo menos em um momento sobre a realidade sensível. E, pasmem... Deus é criacionista!

Quando isso apareceu, fiquei esperando explicações sobre os falsos ossos de dinossauros. Sobre a engenharia da arca de Noé. Sobre os complexos subterfúgios divinos para sistematicamente enganar os cientistas sobre métodos de datação de forma que a sua falsa descrição do mundo seja coerente e incorreta ao mesmo tempo. Mas, como eu esperava, não veio nada.

Tudo isso passou, e eu continuei. E aí veio todo um capítulo sobre sujeição, sobre desligar o cérebro, uma frase estranha sobre a necessidade de aceitar testemunhos sem comprovação (?), já que 'nada que possa ser chamado de verdade' (?) pode ser alcançado de alguma outra forma.

Pensei, então, que o Deus de 'A Cabana' não quer que eu pense. Não quer que eu use minha razão, que eu aplique as coisas que aprendo no mundo que ele presumivelmente criou para nos servir como escola, como teste. Ele me deu a razão, mas não posso usá-la; Ele não quer que eu pense, só que me funda em algo que nem consigo imaginar.

E vieram na minha mente as imagens do onze de setembro, da certeza cega que guiou os fanáticos. Eles deviam mesmo estar se fundindo em algo que não entendiam. Uma mentira assutadoramente real.

E aí eu fiz algo que quase nunca faço: desisti da leitura. De vez. Porque, assim como o autor escreve no prefácio, se eu não gostei do livro ele não foi escrito pra mim. A diferença é que eu não acho que isso o salve de ser medíocre.

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