domingo, 10 de fevereiro de 2008

Tradução, legenda e dublagem



Não gosto muito de falar mal de dublagem; pra mim, é ponto pacífico, algo como chutar cachorro morto. Os problemas, óbvios, são dois: falta de sintonia do som com a imagem e os achatamentos e conversões bizarras que os tradutores são obrigados a fazer para diminuir o primeiro problema.

Mas nem mesmo esses casos explicam algumas das anomalias que encontramos por aí. Estava vendo "Duro de Matar 2" dublado na Fox e liguei o closed caption pra deixar o som bem baixo e não acordar o nenê. Em uma das cenas em que o Bruce Willis se arrasta por um túnel de ventilação, a legenda mostrou:

- Fuck, what's happening here?

E na dublagem, ele disse:
- Hora de entrar em ação!

Não consigo entender o que quiseram fazer. Fico imaginando se os dubladores não gostaram do texto original e resolveram melhorar o diálogo: "Isso aqui está uma droga, vamos dar uma ajeitada."

Outro exemplo ótimo é um episódio do Futurama em que alguém estava no topo de um prédio pensando em se suicidar. No original, todos os personagens gritavam "não pula, não pula!" e o Bender, claro: "Pula logo!". Na dublagem, o Bender dizia: "Não pula!" assim como todos os outros. Uma piada a menos.

Nomes de filmes são um capítulo à parte. Já vi alguém tentando defender as mudanças nos nomes dos filmes dizendo que existem muitos títulos com nome parecido e eles evitam dar nomes iguais a filmes diferentes. Pois bem, não existe nenhum filme chamado "O bom, o mau e o feio" em português, mas "The good, the bad and the ugly" foi traduzido como "Três homens em conflito". "Mystic River" virou "Sobre meninos e lobos". E a genial tradução de "My girl" para "Meu primeiro amor" acabou gerando a aberração incrível chamada de "Meu primeiro amor 2".

Borges escreveu em um de seus muitos ensaios que reclamar da tradução por ela não ser fiel ao original é um contra-senso, já que o original também é uma tradução para uma linguagem humana da idéia que o autor teve para a obra. Dessa forma, qualquer obra seria uma tradução, e qualquer tradução seria uma obra em si mesma. E claro, há muito mais obras ruins do que boas, como em quase toda a produção humana.

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