quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Direto de "O nome da rosa"

Um diálogo muito bem construído sobre a discussão entre religião e ciência:

"Mas então", ousei comentar, "estais ainda longe da solução..."
"Estou pertíssimo", disse Guilherme, "mas não sei de qual."
"Então não tendes uma única resposta para vossas perguntas?"
"Adso, se a tivesse ensinaria teologia em Paris."
"Em Paris eles têm sempre a resposta verdadeira?"
"Nunca", disse Guilherme, "mas são muito seguros de seus erros."
"E vós", disse eu com impertinência infantil, "nunca cometeis erros?"
"Frequentemente", respondeu. "Mas ao invés de conceber um único erro imagino muitos, assim não me torno escravo de nenhum."


E estou eu divagando em meus diálogos metafísicos quando a infeliz realidade me traz de volta e me obriga a trocar um pneu. Imagino se Aristóteles tinha dores de dente enquanto escrevia; se Sócrates teve alguma de suas togas preferidas rasgada durante uma sessão de perguntas e respostas. A idéia é concebível, mas pouco palpável: alguns personagens só são facilmente imagináveis no mundo mental. Mas Newton (segundo a lenda) imaginou a lei da gravidade ao ser atingido por uma maçã, Arquimedes estava na banheira quando descobriu o princípio que leva seu nome. Eu... eu só troquei um pneu mesmo.

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