
A porcentagem de 5% de pedófilos entre os professores me deixa perplexo. Imaginem que os números estejam corretos, que o estudo seja sério e que a realidade brasileira não seja tão diferente. Vamos imaginar que um aluno qualquer tenha, entre a primeira série e o nono ano, 20 professores diferentes (o que é um número modesto). Então, com nossa probabilidade de 5%, a chance desse aluno ter aulas com um professor que se interessa sexualmente por crianças e/ou adolescentes é de aproximadamente 64% (100%-(95%)20). Se essa probabilidade parecer estranha, consulte o chamado paradoxo do aniversário). Assustador.
No caso da Igreja, As coisas ficam ainda piores porque o Vaticano não lida bem com os casos e é basicamente um desastre em relações públicas. Vejam, eu também acho que relacionar os casos de pedofilia com celibato é algo meio estranho, meio como relacionar a proibição do uso de drogas com a quantidade de overdoses. Isso dito, relacionar pedofilia com homossexualidade, pra quem está se defendendo de acusações, é um erro gritante. Na verdade, pode até haver uma relação no sentido de que se possa fazer uma hipótese do tipo P1: A maioria dos pedófilos é homossexual. Mas o que o cardeal não deixa claro (e ele deveria ter estudado isso nas aulas de silogismos aristoteleanos) é que não é porque P1 é verdadeira que podemos afirmar que uma coisa cause a outra ou que, mais importante ainda, P1 tenha qualquer relevância nessa conversa. Por exemplo, a grande maioria dos pedófilos é homem, mas com certeza o cardeal entende porque não faria sentido dar uma entrevista falando da relação entre 'masculinidade e pedofilia' - Precisamos de menos padres e mais freiras!!! ou entre 'humanidade e pedofilia' (100% dos pedófilos são humanos, vejam só que estatística amedrontadora). O cardeal se esqueceu que também precisa da estatística de quantos homossexuais são pedófilos, e não só de quantos pedófilos são homossexuais.

O problema se agrava ainda mais porque a Igreja, assim como praticamente todas as instituições religiosas do mundo, reivindica para si o monopólio absoluto sobre a moralidade humana. Como se defender, tendo colocado sobre si mesma padrões tão altos de comportamento? Isso sem contar os diversos casos de acobertamento e proteção a mando do alto clero ou até mesmo do próprio papa. Mas o escândalo não há de mudar nada; a Igreja já teve papa pedófilo (Julio III, acusado de manter uma relação esquisita com seu sobrinho adotivo), perseguição e assassinato de mulheres, venda de terrenos no céu, guerras em nome de Deus. Depois de tudo isso, não vão ser meia dúzia de padres subversivos que irão mudar a história.