domingo, 13 de março de 2016

Sobre 13/03


Vamos brincar de onde está Wally?
Encontre a limousine; encontre a babá empurrando o carrinho; encontre o cartaz pedindo intervenção militar. Exponha; fale como se fosse a regra, ignore as proporções e você vai ter um argumento de culpa por associação prontinho.

Mas se vale a culpa por associação, também podemos acusar os defensores do governo de estarem aliados a grupos extremamente retrógrados da CUT e do MST, que apoiam ditaduras de esquerda abertamente. Ou podemos falar de Lula, que tirou fotos dando a mão a Ahmadinejad, anti semita notório, e também chamou o ditador Kadafi de amigo e irmão para o mundo inteiro ouvir. E claro, nenhum governista gosta de ser chamado de bandido, ainda que o partido do governo dificilmente passe uma semana sem ter algum de seus membros levado pra cadeia.

(Não acho que quem defenda o governo possa ser chamado de bandido, mas também não acho que quem esteja contra possa ser chamado de fascista. You can't have it both ways.)

A associação é um instrumento, uma ferramenta de retórica usada com um objetivo simples: deslegitimar o protesto. As pessoas não estão preocupadas de verdade com a dignidade da babá, ou não exporiam sua imagem. A babá vira um objeto duas vezes, primeiro pelo empregador utilizando seu trabalho estranhamente uniformizado em um domingo, em um evento onde a presença de uma babá é no mínimo estranha; e segundo por quem posta a foto e a chama de escrava, sem lhe dar voz, sem saber de sua história e expondo seu rosto, com óbvios objetivos políticos.

Li alguém no twitter falado de Churchill, que ilustra bem como é fraco o argumento da associação. Churchill era bom em antever os objetivos dos outros e descrevia o mal que via em Stálin enquanto os presidentes americanos ainda o adoravam. Mesmo assim, se uniu a ele para derrubar Hitler. Churchill não passaria por um argumento de culpa por associação, mas passou no teste da história; você pode não gostar dele, mas se ele não tivesse existido e tomado as decisões que tomou, é possível que hoje estivéssemos todos falando alemão.

Não me sinto culpado por ser abertamente contra o governo, mesmo que outras pessoas com ideias que não condizem com as minhas cheguem à mesma conclusão. Como disse Eduardo Jorge, a rua é larga.

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