terça-feira, 7 de agosto de 2007

Cartas de Iwo Jima

O filme é triste, sombrio, cinza. E total, absolutamente claustrofóbico. Os túneis que os japoneses constróem para sua defesa acabam se tornando uma alegoria para a situação em que se encontram.

A idéia é mostrar a tentativa de um homem - que possui idéias próprias, pensamentos próprios, vida própria - de se entregar à idéia platônica de morrer pela pátria, mesmo sabendo que esse esforço não resultará em nenhum benefício prático nem para a pátria, nem para o indivíduo, nem para a sua família.

É verdade que vi "A Conquista da Honra" há muito mais tempo, mas a impressão que guardei de "Cartas de Iwo Jima" é muito mais sensível e terna (se é que um filme de guerra pode ser terno). Clint Eastwood conseguiu usar a situação desesperadora dos japoneses para mostrar o conflito entre a honra, o país e o ideal de um lado e o indivíduo, o ser, o pessoal e emotivo do outro. Isso tudo de forma clara, mas nem um pouco simples.
Quanto vale uma idéia? Mais do que uma vida? Mais do que um milhão de vidas? Mais do que a nossa própria vida?
E quando a idéia não faz sentido? Quando estamos lutando por algo que não nos diz nada?

Os japoneses me pareceram muito próximos, e não dá para não se comover com a história do soldado padeiro. Seu conflito final (a cena com a pá) mostra que, dados os motivos certos, também ele podia se tornar um guerreiro violento. E que, até ali, não tinha sentido razão alguma para lutar ou matar.

E o general, que era acima de tudo um gentleman, lutou não por sentir em suas veias as razões para defender a pátria, mas sim por racionalizar os argumentos de "honra" e "pátria" e absorvê-los como algo externo, imutável, indestrutível. Quando sua vontade falha, ele recebe pelo rádio (através da canção das crianças) a confirmação de que está agindo exatamente como seu mundo espera que ele aja, e é o que ele continua a fazer.

Mas em todos os casos, a morte não é gloriosa. Ou é de certa forma humilhante, banal (até por diarréia) e/ou absolutamente sem sentido (pelo menos a olhos externos) como o suicídio coletivo. A morte não é ideal, não é bonita, não é poética... é a afirmação de que, aos olhos da natureza, não existe idealismo ou pátria ou honra, apenas acontecimentos e conseqüências sucessivas.

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