sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Rádio em dois atos

Gosto de vir para o trabalho caminhando e ouvindo programas de notícias locais no rádio. A qualidade dos programas (em sua maioria) deixa muito a desejar, o que me deixa de bom humor logo pela manhã.

Há um certo apresentador, de uma certa rádio, de uma certa cidade próxima, que se vale exaustivamente do recurso de _gritar_ com qualquer um que não concordar com ele e, como consequência, também com os ouvintes. Ontem e hoje as coisas foram tão feias que me vi rindo sozinho, correndo o risco de ser considerado louco pra quem não soubesse o que se passava no meu fone de ouvido.

O episódio de ontem envolveu a tão famosa história dos frangos com esteróides. Uma co-apresentadora do programa afirmava que os hormônios que são dados aos frangos fazem mal aos consumidores finais; o apresentador clamava que ela devia trazer estudos comprovando que os hormônios realmente fariam mal às pessoas. Claro, isso tudo aos gritos (dos dois) e intercalado com 'Sua jornalistazinha!', 'Ninguém aguenta mais você' e risadas sarcásticas. Muitas risadas sarcásticas.
O mais cômico da história toda é que, a rigor, os dois estão errados. A história do frango com hormônio é uma lenda urbana já bem antiga, companheira das reses do McDonald's.

Mas hoje a coisa ficou ainda mais engraçada, por motivos um pouco diferentes. Os apresentadores estavam discutindo com um advogado, por telefone, uma reportagem da EPTV sobre agressão policial e Direitos Humanos. Assunto polêmico: com certeza boa briga. A discussão girou basicamente em torno de uma frase da advogada Ana Paula Vargas, da comissão de Direitos Humanos na OAB, sobre o fato de muitas pessoas não denunciarem agressões policiais:

A barreira do medo é difícil de ser vencida, porque a farda representa uma ameaça direta para quem mora na periferia.


O apresentador e as duas co-apresentadoras, agora um poupando ao outro para todos gritarem juntos contra o advogado, afirmavam que a frase é um absurdo e que a advogada devia ser processada por fazer 'conjecturas infundadas' contra a polícia. O advogado que estava no ar acabou se exaltando com os gritos dirigidos a ele e afirmou, depois de ser acusado de 'advogadozinho vagabundo', que os apresentadores eram comprados por um ou outro partido político. Depois disso ele ficou ainda mais confuso, ora defendendo a advogada, ora concordando com os apresentadores. No final, desligaram o telefone na cara dele.

A frase está totalmente fora de contexto; não sei o que a advogada disse fora o que foi relatado mas, mesmo assim, o advogado poderia ter se defendido muito melhor do que fez. Ele poderia (sem entrar no jogo de gritos) afirmar que a polícia é um instrumento de repressão do Estado contra os bandidos e que se esse instrumento é utilizado contra a população comum, ela fica _sim_ confusa e ameaçada.

Você sabe o que esperar de um marginal; sabe também o que deve esperar da Polícia. Se o policial age como agiria um marginal, confunde-se o mau policial com a instituição da Polícia e a instituição em si passa a representar uma ameaça. Para quem vou denunciar o mau policial? Para outro policial? Posso ser espancado, perseguido, preso?

Não vejo porque de todo esse auê em torno de Direitos Humanos. São coisas extremamente importantes, fáceis de explicar, fáceis de entender; os ongueiros, advogados e sociólogos acabam gostando de gastar o vocabulário na televisão, complicando as coisas e afastando os conceitos da população comum. Acho até que o maior prejuízo causado a instituições de DH é feito pelos próprios defensores; mas isso sim é uma conjectura totalmente infundada.

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