terça-feira, 22 de março de 2011

Conservar é humano


Há alguns dias um amigo me fez pensar em como é ridícula a mania de dar nome em ruas - na verdade, também em viadutos, pontes, obras públicas em geral. O mais simples seria numerar as ruas de acordo com um sistema que mapeasse de forma razoável os inícios em coordenadas x;y... facilitaria muito encontrar qualquer endereço. Ao contrário, preferimos usar nomes de defuntos, largamente desconhecidos da população (e talvez sabiamente ignorados), prestando homenagem a pessoas que já foram comidas por vermes há muitos e muitos anos e cujos feitos normalmente são mais de dar vergonha do que orgulho. Imagino o Duque de Caxias e o Dom Pedro I, em um limbo de existência qualquer, brigando pra ver quem tem mais obras públicas em honra a seus nomes.

Não entendo essa cultura da morte. O mundo é dos vivos; no entanto, em casa pequeno detalhe da vida, estamos sempre prestando contas aos mortos. Nos sobrenomes, nas famílias. Na 'tradição'. No patriotismo, nos bairrismos em geral. Na 'herança cultural'. Nas religiões.

É óbvio que nem tudo o que é velho é ruim, e nem tudo o que é novo é bom. É óbvio também que é impossível reinventar tudo do zero o tempo todo. O que discuto é valorizar algo só por ser velho, por ser ancestral, por ter sido sempre assim. Por alguém dizer que é bom, sem mais argumentos, sem mais discussão.

Vivemos tanto tempo 'honrando' o que já passou que esquecemos de olhar pra frente e planejar o que está por vir. Estamos todos mortos, vivendo uma vida que não é nossa. Só a ignorância nos salva da loucura.

Alguns se orgulham do rótulo de 'conservador'. Um conservador de verdade tem que morar em cavernas e ser nômade. Ou viver como um primata, pegando frutos do alto das árvores.

4 comentários:

Unknown disse...

é que esse é um jeito de manter os mortos vivos. e a humanidade em geral não sabe lidar muito bem com a ideia da morte, da finiture. tem essa coisa de ter que deixar um legado, ser lembrado por alguém.

Arthur Luiz Tavares disse...

Eu já cito que a maioria dos "projetos de lei" apresentados e aprovados pelos Deputados Nacionais e Estaduais e pelos Vereadores do Brasil são para mudança de nome de ruas, obras e lugares.
Claro que estas "leis aprovadas" vão para a próxima campanha: "Fulano de tal, com mais de 200 leis criadas, para Deputado Federal!" - Mesmo que as 200 leis sejam de mudança de nome...

Culto à mortos? Só mais um "papo para boi dormir". Quanta igenuidade...

Suzana Elvas disse...

Pois é. Pensei eu e meu pai isso quando meu avô descobriu que era nome de avenida em Manaus - a principal rua do mais movimentado meretrício da capital.

André disse...

Hahahaha, espero que você não tenha ficado ofendida com o que escrevi :)