sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Clichês

Li, em algum comentário, em algum blog, alguém afirmando que 'O curioso caso de Benjamin Button' está cheio de clichês. Não concordo com o caso em questão, mas acabei chegando à conclusão de que a vida toda é cheia de clichês.

Ter um trabalho entediante. Não estar satisfeito com ele. Problemas com os pais, com os tios, brigas de família. Ter uma empregada negra ou mulata. Conhecer alguém que tem um caso com a sua empregada negra ou mulata. Pessoas que se esforçam para parecer absolutamente 'normais' e que não são. Pessoas que são tão 'normais' que até assustam.

Em muitos casos, o ladrão é mesmo um negro alto encapuzado.
Em muitos casos, a brasileira imigrante é a mentirosa da história.
Em alguns casos, os raios podem cair várias vezes sobre a mesma pessoa.

Um lugar-comum em filmes de guerra é aquela cena em que um combatente, conversando intimamente com outro, diz com os olhos marejados e a voz máscula de um guerreiro: 'Se eu morrer, você entrega isso para minha mulher/mãe/filha/filho.'

Se eu um dia for pra guerra, nunca vou dizer isso. Se os filmes de guerra me ensinaram uma coisa é que se você disser isso, vai morrer em pouco tempo. Como se o universo estivesse preocupado com o fato de você ter confiado plenamente em alguém e aquela confiança toda precisasse de uma confirmação.

Imagino que, na prática, pode acontecer de alguém falar a tão fatídica frase e o amigo pra quem foi feito o pedido morre minutos depois. Ou os dois morrem. Ou o cara que fez o pedido morre, e o suposto amigo não entrega nada pra família do outro. Ou a mulher do soldado morre por uma apendicite mal tratada antes de receber o pacote. Ou o LHC realmente cria um buraco negro e aí o cara que pede, o cara que entrega, a mulher, o filho, o general aliado, o general inimigo, eu, você e todo rastro de existência humana somos varridos para o nada. As pessoas podem ser covardes, maldosas, justas, corajosas: o universo não se preocupa. Felizmente, talvez.

Foi exatamente isso que me deixou meio irritado em 'O caçador de pipas'. Não os clichês, mas sim a contínua afirmação (subliminar) do destino, do vaticínio. Como se o universo, sim, se preocupasse. Claro, qualquer coincidência pode acontecer; até mesmo, pode-se argumentar que todas podem acontecer ao mesmo tempo. Mas não se consegue escrever uma história dessa forma sem evitar o cheiro de 'Maktub'.

Talvez por isso o livro tenha feito tanto sucesso.

3 comentários:

Monoman disse...

Cara, lembrei de voce outro dia.
Uma vez voce me disse que existem duas coisas que as pessoas não gostariam de saber como são feitas, hot dogs e leis. Eu achei um video sobre a primeira opção: http://www.youtube.com/watch?v=UhwXPsTaRgc

André disse...

Cara.... que nojo.

André disse...

Lembrei de uma tirinha que se encaixa perfeitamente:
http://www.pbfcomics.com/?cid=PBF153-The_Golden_Ticket.jpg