Ontem assistimos "Ensaio sobre a cegueira", filme do Fernando Meirelles baseado no livro do Saramago. O filme, apesar de obviamente não reproduzir toda a experiência que é ler o livro, é espetacular.
De alguma forma, ler o livro (ou assistir ao filme) nos leva a um processo análogo ao que se passa na história. O leitor é levado a ter uma visão diferente do mundo mas, assim como a visão dos personagens da história se transforma em um mar de leite branco, a impressão deixada pelo livro se esvai em uma névoa branca quando a história termina (assim como a de qualquer outro livro). Ficou alguma coisa, sempre fica; mas a sensação vívida de...
1) ter algo muito importante ao que não se dá o devido valor e...
2) saber (no sentido mais profundo de saber, conhecer profundamente) a verdade de que estamos a um passo da total ausência do que chamamos de 'humanidade'
...se perde. Ficam só alguns restos, a lembrança da sensação.
Os livros não são como carimbos perfeitos que deixam sua marca na nossa personalidade; são mais como uma impressão silk-screen cheia de falhas, onde um lugar fica cheio de tinta, outro vazio. Algumas pessoas não pegam nada de história nenhuma; outras se encharcam e perdem tudo logo depois. Alguns livros também se imprimem melhor, outros não tem estampa nenhuma (mas podem muito bem ser divertidos à sua maneira).
Mas eu ainda não consigo como alguém pode considerar "O código Da Vinci" como leitura profunda. Não dá.
Nota: estou vendo no imdb os americanos malhando o filme. Vai entender esse povo.
Matinê
Há 7 anos
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