terça-feira, 25 de agosto de 2009

Nuvens


Sempre associei nuvens com sonhos, desde criança. Acho que pelo formato indefinido, elas ganham uma subjetividade muito interessante. Você pode ver coelhinhos, cachorros, dentistas, tudo o que quiser. E os sonhos, claro, você também pode interpretá-los da maneira que achar melhor.

Hoje estava me lembrando de uma tarde de acampamento na minha adolescência. Eu e dois amigos fomos até Monte Verde, MG, e estávamos acampando ilegalmente - já que é proibido ficar na montanha, por conta do pessoal que faz fogueira, deixa sujeira, etc. Era o quarto dia de acampamento isolado e estávamos sujos, cansados e com fome. É muito exercício pra quem pouco fazia fora ir da casa pra escola e da escola pra casa.

Antes de irmos embora, faltava o último lugar a ser visitado, o Pico do Selado. Tem uma foto legal da vista dele aqui. Estávamos, se não me falha a memória, em um outro pico chamado Chapéu do Bispo, e para ir de um ponto a outro havia duas alternativas: descer até o córrego, pegar água, e fazer o caminho de volta; ou ir pelas montanhas, percorrendo uma distância menor, sem água por perto.

Estávamos com os cantis vazios, mas resolvemos ir direto já que isso economizaria um bom tempo de caminhada. A subida foi marcada pelo arrependimento constante. Parece pouco, mas duas ou três horas andando em terreno íngreme e acidentado, carregando peso... não é moleza. O tempo estava terrivelmente nublado, ameaçando chover. A sede atrapalhava e fazia as mochilas pesarem ainda mais. O que cada um pensava era 'Porcaria, devíamos ter ido pra casa, que droga isso.'.

Apesar dos problemas, continuamos até o fim. E, no cume do morro, tive uma das visões mais maravilhosas da minha vida - ventava muito, e as nuvens contornavam a montanha imediatamente abaixo de nossos pés. Se você ficasse abaixado, só veria neblina; mas quando se levantava, via um gigantesco colchão branco, até onde a vista alcançava, voando numa velocidade impressionante e caprichosamente dando a volta em torno de onde estávamos.

É uma pena que eu não tenha levado uma máquina fotográfica. Mas, mesmo se tivesse, a experiência de estar ali naquela hora é intransferível.

No dia seguinte, já na cidade, ficamos totalmente desesperados por ter perdido o ônibus, já que só haveria outro horário no dia seguinte. Um sujeito de fusca notou nossa preocupação e, sem pedir absolutamente nada em troca, perseguiu o ônibus até fazer ele parar. Repito: o rapaz perseguiu e parou um ônibus para ajudar a três moleques desconhecidos, sujos, sem banho, isolados no meio do mato há mais de 4 dias.

Sempre vou ser grato àquele cara.

Sem palavras.

4 comentários:

Henrique Rossi disse...

André T,

Você escreve muito bem e, além disso, tem um farto dom literário.

Parabéns!

Não é todo mundo que consegue conciliar o talento das ciências exatas ao das ciências humanas.

Você é brilhante.

Henrique

Anônimo disse...

off-topic: indicarei seu blog no dia 31/08, no blogday.

abraços!

André disse...

Pow, obrigado, pessoal.

Anônimo disse...

Muito bom, foi isso mesmo, lendo o texto parecia que estava lá novamente. Vou sempre lembrar daqueles dias.

Abração,
Marcelo Claus