segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Partido da palhaçada


A idéia, como tantas outras, surgiu em uma conversa regada a cerveja barata e incentivada por amendoim salgado. Imaginaram que tudo provavelmente não passaria de um papo de bar, em que muito é falado e nada é feito... mas, dessa vez, não foi bem assim.

O partido foi fundado dois meses depois. O advogado do grupo se encarregou da burocracia, agindo como se tudo fosse uma grande brincadeira mas realizando os procedimentos de forma precisa, impecável. Em pouco tempo, contavam com cerca de 20 partidários devidamente filiados.

O princípio era simples: avacalhar as estruturas, normas e o status quo. As propostas do partido eram baseadas na total falta de seriedade: servir batata-frita e cachorro quente para as crianças como merenda nas escolas; usar o dinheiro da previdência para fazer uma rave especialmente voltada à terceira idade, com artistas da velha guarda (inclusive com previsão de verbas para a distribuição ilícita de anfetaminas); promover congressos, encontros e workshops diversos sobre a utilização da coca-cola como desentupidor de pia, sua viabilidade e meios de operação; obrigar o ensino do gênese segundo a Igreja do Espaguete Voador para todos os alunos do ensino médio.

As coisas começaram devagar. Devido à sua influência, os fundadores do partido conseguiram eleger um vereador em sua cidade de origem. Seu nome de batismo era João Pontes, mas depois da eleição a alcunha de "Zé Cachaça" passou a ser utilizada pela maioria da população. João não era alcoólatra: ganhou o apelido devido a uma de suas propostas, em que sugeria substituir a água comum utilizada nas fontes da cidade por aguardente.

Os demais vereadores não permitiram que o mandato de Cachaça durasse muito tempo. Através de uma artimanha jurídica, conseguiram uma cassação a despeito da vontade da população, que tirava das atividades do tresloucado vereador risadas melhores do que as provocadas por qualquer humorístico global. João fez dezenas de propostas absurdas, agitou a câmara com vestimentas inapropriadas, agendou uma reunião de hippies ambientalistas com o fabricante de isopor da cidade... mas a única medida que conseguiu realmente aprovar foi dar o nome de Suellen Pâmela (praticante notória da profissão mais antiga da história) a uma avenida da cidade (os outros vereadores não perceberam a gafe até ser tarde demais).

Mas, apesar do pequeno sucesso logrado por Cachaça, as notícias se espalharam rapidamente. Em pouco tempo, o PaPa, Partido da Palhaçada, ou Partido da Pataquada, ou ainda Pata (que) Pariu monopolizava os temas de sites de relacionamento on-line, conversas de barbeiros e reuniões das Senhoras de Santana. A opinião era, com raríssimas exceções, unânime: todos achavam o PaPa o máximo. "Já que os políticos acham que somos todos palhaços, vamos colocar uns palhaços para fazer política", diziam.

O fenômeno cresceu. Os políticos tradicionais acreditavam que seria apenas uma moda passageira e, quando tentaram reagir, já era tarde demais. "Isso é um absurdo", diziam. "Eu passei a minha vida inteira aprendendo política e agora o povo vota em um bando de idiotas." O PaPa conseguiu eleger três governadores estaduais nos três estados em que lançou candidatos: Reinaldo Leleca em Pernambuco, Ricardo Batuta no Acre e Antônio Maluco em São Paulo.

A administração em São Paulo e no Acre não produziu quase nenhum resultado. Como não conseguiu maioria nas assembléias estaduais, o PaPa desses estados se esforçava para tumultuar as votações provocando sucessivas prorrogações: nada era decidido, nunca. O povo desses estados, estranhamente, não percebeu muita diferença com relação às administrações anteriores.

Em Pernambuco começou o movimento que, tempos depois, foi chamado de Revolução Insana. Além do Executivo e do Legislativo, também o Judiciário foi tomado por ferrenhos papastas. Apesar da aparente falta de critério nas ações do partido, havia uma estrutura muito bem organizada que permitia atividades de larga escala: era uma loucura institucionalizada e, apesar de amplamente aberta a novas idéias, mantinha uma linha de raciocínio absurda que permitia a orquestração de atividades de grandes proporções.

Mas ninguém estava preparado para o que estava por vir. Através de obscuros regulamentos jurídicos esquecidos nas entrelinhas da Constituição, o PaPa conseguiu vender todo o patrimônio do Estado de Pernambuco (inclusive o Estado em si) e, com o dinheiro, organizou uma grande queima de fogos que durou três dias e pôde ser observada até do Japão. Cientistas até hoje tentam explicar o fenômeno, mas partidários do movimento Terra Plana afirmam que é mais uma evidência para suas teorias. O PaPa concorda.

Todas as instituições estaduais em Pernambuco entraram em colapso. Os políticos tradicionais eram amarrados a postes de iluminação e sofriam com tortas no rosto por dias e dias. As portas dos hospícios foram abertas; as das delegacias, trancadas.

O governo federal sofreu com desinformação e boatos espalhados pelos membros do PaPa. Quando tentou intervir com os militares, notou que esses também já estavam infectados: a grande maioria do corpo se juntou aos populares pernambucanos durante a chamada Festa do Chapéu, em que todos ficavam nus, mas eram obrigados a cobrir a cabeça de alguma forma. Apesar dos comentários preocupados das Senhoras de Santana, relatos indicam que a festa foi mais de "liberdade arbitrária" do que expressão sexual.

Terminou ontem a grande preparação para o impeachment do presidente da República; amanhã, no fim da tarde, tudo estará decidido. A atual conjuntura indica mais uma grande vitória do PaPa, que irá indicar o atual presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Doidão, para ocupar o cargo.

Marcos foi entrevistado hoje e disse que "...as políticas econômicas e fiscais serão mantidas..."; "...não será feita nenhuma grande mudança no câmbio ou na taxa de juros..."; "...investimentos em infra-estrutura continuarão no mesmo ritmo...". Até agora, ninguém sabe se ele está de brincadeira.

2 comentários:

Anônimo disse...

André T.,
vc é mesmo meio maluco... no bom sentido! de onde tirou isso? revoltou geral com a política nacional?
Mas continue assim, maluco, pensante...
tia avó!

Anônimo disse...

Tia avó? hehehe

Tirei de um partido do Diretório de Estudantes que tinha mais ou menos essas idéias ;-)