domingo, 11 de outubro de 2009

Não se fazem mais nostálgicos como antigamente

Eu cancelei esse post algumas vezes porque ele tinha se tornado um pseudo-ensaio socioantropológico sobre moralidade e, claramente, além de eu não ter cacife pra isso, não cai bem algo assim aqui no blog. Aliás, não cai bem em nenhum blog. Aliás, não cai bem em lugar nenhum.

Mas o que eu quero dizer, afinal, é bem simples: essa conversa de 'a juventude está perdida', 'o mundo está indo pro buraco' e coisas do tipo já está na moda pelo menos há uns 3 mil anos. Um exemplo claro é o 'esse negócio deixa tudo muito fácil, na minha época era muito melhor' que se ouve toda vez que aparece uma nova parafernalha tecnológica (computadores, e-book readers, músicas em formato digital). Eu incluso, em alguns momentos.

Bom, Sócrates (o filósofo, não o jogador) acreditava que a escrita era uma invenção que iria deixar as pessoas menos inteligentes. Memorizar dava muito mais trabalho, fazia pensar, etc e tal. Hoje mesmo entre os mais nostálgicos a palavra escrita é uma unanimidade. Claro, isso não quer dizer que a tecnologia em si seja boa. A tecnologia é só uma ferramenta; o uso dela sempre depende e vai depender das pessoas, do que elas querem, do que elas desejam.

Além disso, é uma besteira sem tamanho acreditar que a moralidade está num declínio constante desde os áureos tempos. Qualquer livrinho meia boca sobre história de comportamento mostra que nossos padrões obedecem a uma montanha russa entre virtude e vício, uma geração permissiva seguindo uma geração coercitiva. Isso mesmo em sociedades que acreditam em 'padrões objetivos de comportamento'.

Lembro da minha avó contando histórias sobre amigas que se casaram com doze, quinze anos, com homens de vinte, trinta anos. Hoje em dia, isso tem um outro nome, bem feio por sinal. 'Isso é culpa da televisão, essas novelas cheias de sexo... na minha época não existia.' Ahhh, é mesmo? Na 'sua época' houve um golpe militar, atentados terroristas e assassinatos institucionalizados pelo Estado - tudo aqui no Brasil. Mas as coisas eram melhores porque as crianças rezavam nas escolas, né? E sabe o que é pior? Foi a sua geração que criou a minha. Devem ter feito um péssimo trabalho.

O mundo sempre foi uma bagunça e, provavelmente, sempre vai ser uma bagunça. A vantagem é que atualmente, em boa parte do mundo, você pelo menos não depende da sua própria força física para garantir a sua segurança. Ah, e escolhe você mesmo com quem vai casar. E você pode falar quase tudo o que quiser sem se preocupar em irritar algum poderoso e ser preso e/ou assassinado. Agora, se tem gente que não acha que essas coisas sejam avanços, então nem temos o que discutir.

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Se alguém se interessar pelo assunto, sugiro um livro de leitura bem tranquila (fora as ocasionais descrições de aparelhos de tortura medievais criadas pelos hoje auto-intitulados 'detentores do Bem') sobre a história da maldade e do comportamento em geral: A assustadora história da maldade. Recomendo.

7 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto, andré.

Acho que não existiu nenhuma geração que não disse "na minha época...".

E fico me perguntando se, um dia, eu também não vou dizer...

Acho que, sinceramente, as coisas são melhores agora, em quase tudo. Mas acho também que não há como negar a mistura do moderno com o antigo, afinal, somos influenciados e não há como evitar isso.

Mas a nossa maior conquista, como voce bem pontuou no fim do texto, não foram as tecnologias cada vez mais facilitadoras (embora ela tenha seus méritos), a nossa maior conquista é a nossa liberdade de expressão. E isso não tem preço.

PS: mas tem muita gente que diz por aí que, a geração passada, a paz e amor, era liberal. Isso significa talvez, que a maioria dos jovens de hoje é mais conservadora que seus pais...

D disse...

O que seria de um mundo sem o conflito? O que fariam os seres desse mundo?

André disse...

D,

Nada. Acredito que nada. Mas o que tem o post a ver com isso?

D disse...

"O mundo sempre foi uma bagunça e, provavelmente, sempre vai ser uma bagunça."

Estava refletindo sobre essa frase. O que faríamos se não houvesse a "bagunça"? A "ordem" me parece uma coisa tão chata. :)

André disse...

Tem razão. Acho meio... inimaginável :D

Anônimo disse...

esse é o livro que fitei na casa de vocês há um tempo atrás? mas não levei?

André disse...

Hmmm, acho que é esse livro mesmo!